sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Casar ou não casar, eis a questão!

Advirto-te que o que vais ler a seguir pode ser enquadrável no âmbito do que é herético.

Oiço muitas vezes que o casamento é uma instituição que está em declínio.
Cientificamente falando, não concordo com o termo declínio. Moralmente falando, sim. Mas será justo dizer que "a cabine do piloto está a afundar-se" quando todo o barco se afunda?
Não sou sociólogo, mas entendo que cada sociedade tem crenças, valores e leis distintas e, ao mesmo tempo, se vai transformando ao longo dos tempos.
Portanto, aquilo que está em causa não é o declínio do casamento mas a mudança dos valores da sociedade. E a sociedade mudou em tal ordem que o conceito de família já não é o mesmo de há 25 anos. O conceito de pai, mãe, filhos, irmãos e avós, transformou-se numa salganhada de pai, mãe, filhos, irmãos, meios irmãos, enteados, padrasto e madrasta. 
Se começo a pensar que tipo de relação poderá existir entre uma pessoa e o enteado da sua filha ou entre a ex-mulher mãe do 1º filho com a ex-mulher mãe do 2º e 3º filhos, entro em curto-circuito. 

Confesso que para mim estas novas relações de parentesco são esquisitas. Talvez por acreditar num modelo de casamento indissolúvel, para toda a vida. Mas o facto de acreditar nesse modelo de casamento, não significa que seja o único tipo de relação com que concorde. 
Sobre este assunto, tal como no namoro, há apenas uma regra que me parece essencial:  que ambos desejem o mesmo tipo de relação. 

Se partirem ambos para a relação com a ideia de que "o casamento não é eterno, não sei até quando me darei bem com o meu parceiro, por isso ficarei com o outro enquanto me sentir bem", excelente. 
Ou até mesmo, "vou casar-me contigo mas receio cair na rotina por isso não nego à partida ter relações extra-matrimoniais", se ambos tiverem a mesma perspectiva sobre a relação, não tenho nada a dizer.
Ou ainda, "desejo ter filhos mas não me parece necessário que eles tenham de conviver na mesma casa com os dois pais", paciência!
Pessoalmente, parece-me uma forma terrível de iniciar uma relação. Há mil coisas que conspiram à partida para o insucesso dessa relação, mas à parte disso, acho legítimo que o façam. Por exemplo, quando um dos cônjuges estava a desfrutar muito da relação e o outro decide ir-se embora. Sei que é cruel, mas às vezes dá vontade de dizer: "é bem feito! Sabias no que te estavas a meter, mas foste na mesma!" 

As coisas mudam de figura quando há um que quer uma coisa e outro quer outra e apenas cede na expectativa que as coisas não corram mal. Essa relação deveria ser proibida logo à partida.
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Às vezes fico a pensar em coisas como: o que poderá levar alguém que deseja um casamento para toda a vida, casar com uma pessoa que se apaixonou por si enquanto estava casada com outra pessoa, e a deixou para ficar consigo?
Considero muito naïve a crença em almas gémeas. Acredito que não há qualquer predisposição de personalidades que permita uma vida conjugal feliz sem um esforço e uma dedicação permanente. Já vi e tive a minha quota de amores da minha vida, suficientes para saber que, salvo raras excepções, uma relação tem de ser trabalhada. E a questão da abertura de precedentes é simplesmente tramada. Todas as pessoas têm o direito de aprender com os erros, mas como saber se aprenderam mesmo? Quantas pessoas conheces que, tendo faltando à palavra a primeira vez, nunca mais o fizeram?  


Pois bem, este é o cerne da minha argumentação: deves saber bem aquilo que queres e garantir que a outra pessoa quer a mesma coisa. E, a menos que sejas daquelas pessoas tacanhas e desactualizadas que querem um casamento para toda a vida, não te cases!!!!



quinta-feira, 29 de novembro de 2012

O Deus polícia

Toda a gente tem o direito a ter uma opinião. Mas a importância de uma opinião é directamente proporcional ao grau de informação que se possui sobre o que se opina. Por isso, a minha opinião sobre a teoria dos buracos negros ou sobre o estatuto do médico é pouco melhor que insignificante.

É por isso, que sinto uma lufada de ar fresco quando vejo alguém a opinar sobre Deus, com uma ideia completamente oposta, mas sabe do que está a falar e sabe porque tem aquela opinião.

Na altura, desvalorizei e não me apercebi do alcance do que ele estava a dizer, pois a argumentação dele baseava-se numa premissa errónea. Contudo, hoje atingiu-me, com a mágoa de quem percebeu que está enganado, a verdade das palavras daquela pessoa.

Posso resumir grosseiramente a: "eu não acredito em Deus. Deus não existe, só que as pessoas tendem a acreditar porque é mais fácil suportar viver sabendo que há uma entidade que garantirá o castigo ou a recompensa de alguém que não os teve em vida. Um Deus que vigia as acções das pessoas em todo o instante, qual polícia cujo papel é fazer cumprir a lei. Acreditam para dar sentido à injustiça."

É óbvio que Deus não é polícia e que a fé da Igreja se distancia grandemente dessa ideia. De tal maneira que é vulgarmente vista como injusta: um Deus que acolhe bons e mais, justos e pecadores. A fé católica é difícil e incómoda. Portanto, não é por comodidade que acredito em Deus. Foi este o motivo que me levou a desvalorizar a opinião aquela pessoa: "ele não sabe do que está a falar, logo, a opinião dele é irrelevante. É só mais um a falar do que não sabe".

Mas mudei completamente de opinião quando percebi que ele sabia muito bem do que estava a falar. E magoou-me relembrar-me que existem, de facto, muitas pessoas que se dizem católicas praticantes a acreditar num Deus justiceiro. Mais me magoou questionar-me se esse será o principal pilar da fé dessas pessoas. E triste fiquei, quando passei a concordar com ele.

Para uma parte da população, a fé é um escape irracional à realidade. E é verdadeiramente estranho constatar isto, quando se pretende que seja precisamente o oposto: uma entrega decidida à realidade.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

A noite escura

Há uma racionalidade na fé que me apazigua, me concede sossego. Tranquiliza-me pensar em Deus e pensar sobre Deus.

Comecei a acreditar porque me mostraram o caminho, mas só passei a confiar quando consegui entender Deus pelas minhas próprias palavras. E de uma forma brilhante, Deus mostrou-se para mim. Não brilhante no sentido de luminosidade, mas de modo genial. Como se a forma como eu O fui descobrindo, tivesse contornos de perfeição. De tal modo, que ainda hoje não encontro uma falha.

Todavia, após este deslumbramento, fui assaltado por uma constatação brutal que, me deixou arrasado: quanto mais Deus fazia sentido para mim, mais sozinho me comecei a sentir.

Acho que finalmente perdi aquela concepção de amigo invisível que nos ajuda quando precisamos. Julgo que o processo de isentar a minha fé de sentimentos,de forma a torná-la objectiva, clara e definida, me conduziu a uma noite escura.

Pelo que li, vários santos relataram esta noite escura nas suas vidas, onde a sua fé vacilou antes de confiarem plenamente. Pessoalmente, não creio que a minha fé tenha vacilado. Afinal, continuo a encontrar apenas perfeição em tudo e continuo a encará-lo nos meus dias como antes. Só não tenho a certeza se é este o Deus que eu preciso:

- um Deus que não me trata de forma especial por amá-Lo e tentar seguí-Lo;
- um Deus que não me livra das dificuldades e das provações;
- um Deus com o qual não consigo comunicar, por não ter a certeza que linguagem usar;

Concedo que Ele me deu tudo quanto Lhe pedi. Mas o que recebi veio acondicionado numa realidade dura e brutal. Expôs as minhas fraquezas, exaltou as minha dúvidas, baixou a minha auto-estima e auto-confiança e deixou-me preocupado com o futuro.

Espero que alvorada venha rapidamente. A noite já vai longa e a esperança começa a rarear.

terça-feira, 26 de junho de 2012

A mente aberta de um ateu

Hoje, nas minhas deambulações pela net, deparei-me com a seguinte afirmação:
"athiests are the most open minded people you can find, they just need to have proof. if there is no proof there is no reason to believe."
Uma tradução possível será: "Os Ateus são as pessoas com a mente mais aberta que podes encontrar, eles apenas precisam de provas. Se não há prova, não há motivo para acreditar"

Esta argumentação é profundamente ilógica. Basta fazermos um pequeno exercício mental:
vamos imaginar que há um grupo de pessoas que só acredita em algo depois de obter provas. Poderás ser levado a pensar que em todo o lado as coisas já são assim, mas serão, de facto? Continuando:
Esse grupo de pessoas entraria para a escola onde aprenderiam a ler e a fazer contas. Depois começariam as aulas de geografia e de história. Primeiro problema: Como explicar a alguém que precisa de provas que determinado país tem um clima assim, uma topografia assado e faz fronteira com aquele país? Não basta estar escrito num livro, não basta ouvir por quem já lá esteve. Como dizer a uma pessoa que precisa de provas que houve um período Paleolítico, que houve um tempo onde existiam reis, que existiram duas guerras mundiais? 
A única possíbilidade seria: no primeiro caso, que fizesse uma viagem pelo país interiro, ficasse um ano em cada região, e no segundo caso, que fosse aos locais de escavações e lesse calhamaços antigos; em suma, que todas as pessoas fossem geógrafas e historiadoras. 
Como esta abordagem é impensável, temos fé que os nossos professores sabem o que estão a dizer, e que os livros científicos se baseiam em provas verificadas por alguém.
Mais simples que isto. Basta perguntar a alguém a que horas passa o autocarro para determinado sítio. Se não fizéssemos fé que a pessoa que nos responde sabe do que está a falar, teríamos de ficar sabe-se lá quantas horas à espera do autocarro.

A confiança é um componente da fé. Seria impensável viver em comunidade sem ela. Seria impensável se para tudo precisássemos de provas.

Agora, há uma falácia comum no pensamento ateísta que é: "Nós não temos que provar que Deus não existe, vocês é que têm de provar que ele existe".
Na maior parte das vezes isso seria correcto. O ónus da prova deveria estar do lado da existência de algo. Mas neste caso, há pouco mais a dizer da parte dos crentes: olhem para a criação, olhem para um olho, olhem para um cérebro e para a mente humana, que acaso poderia criar algo assim? A teoria estatística diz que a quantidade de acasos improváveis que teriam de se ter sucedido é tão grande, que torna o fenómeno matematicamente impossível de ter acontecido. Olhem para as remissões de doenças inexplicáveis, os milagres em pessoas de fé, que a ciência não consegue explicar mas deveria? E a lista continua.

Que mais provas quer o Ateu? Um Deus que venha à terra e acabe com a pobreza e a injustiça? Daquilo que nos é dado a conhecer sobre Deus, este nunca sobreporia a sua vontade sobre a vontade individual; Um milagre nele próprio? Tanto quanto nos é dado a conhecer sobre milagres, os mesmos só acontecem a quem tem Fé. 
Diz o ateu: "que conveniente!"
Responde o crente: "de facto. Mas foste tu que decidiste ignorar as provas que te dei, e continuas a achar que uma infinidade de erros genéticos casuais deu origem a algo tão brilhante como um ser humano, acreditando numa coisa que a Matemática diz ser impossível. Quem tem maior fé aqui?"



quinta-feira, 17 de maio de 2012

Amar Deus é irracional

1º Mandamento: amarás o Senhor teu Deus acima de todas as coisas.

Não te intriga que uma religião peça aos seus fiéis para amarem um ser invisível mais que os próprios filhos?

A mim não me entra no sistema nervoso. Das duas uma, ou não percebo o que significa "amar Deus acima de todas as coisas" ou estão a pedir-me uma coisa ilógica: amar algo que não vejo.
Se me pedissem para respeitar? Óptimo, claro que sim, nem preciso de fé para o fazer. Se me pedissem para rezar? Tudo bem, é uma questão de fé. Agora, amar? Parece-me uma dimensão demasiado pessoal e intima para ser direccionada para o vazio. Mesmo acreditando, como amar algo que não se vê?

Normalmente, a primeira resposta que oiço é: "não vejo mas sinto" Eu chamo a isto ilusão. Há poucas coisas que abomine mais na Fé, que apoiá-la em sentimentos.
Torna-a frágil.
Tenho um medo tão grande de desobedecer que nem ouso questionar e, então, invento. Por isso, se me pedem para amar algo que não consigo ver; se me pedem para ser amigo de alguém que nunca vi, imagino um amigo invisível que anda sempre no meu bolso e uso-o para desabafar.
Lamento, mas o que Jesus disse foi que estaria onde "dois ou três estivessem reunidos", não ao lado de cada indivíduo; Embora a Igreja ensine que o nosso corpo é o templo do Espírito, não significa que Ele esteja sempre presente. Do mesmo modo que eu habito numa casa, mas não passo lá o meu tempo todo.
Daí a ilusão, daí a irracionalidade de direccionar um sentimento para algo invisível que não está lá. Além de ser completamente isento de fundamentação teológica.

É natural que se fale nestes termos a crianças: um amigo invisivel, etc... Um adulto deveria ser levado a questionar as razões da sua fé.

Então, onde está a fundamentação para este mandamento tão irracional?

É importante que faça aqui uma explicação. Esta argumentação agressiva tem um objectivo: não o de fazer apologia da verdade, mas de te colocar interrogações sobre a forma como vês Deus. Pois senão repara, eu próprio encaro Deus como uma pessoa imaterial. Será que estou também a atacar aquilo em que acredito?

Não! Estou a tentar que chegues à conclusão que, embora a natureza de Deus seja imaterial, ela é tão real e presente nas nossas vidas como a luz do sol. E que descubras onde procurar por Deus que não seja dentro da tua imaginação.

O mandamento deixa de ser irracional quando mudamos o "chip". Quando nos permitimos a encarar Deus tal como Ele é. E mais, aqui, não só passa a fazer sentido, como não podia ser de outra maneira.

Primeiro: "amar Deus é semelhante a amar o próximo". Segundo o dicionário Priberam, uma das definições de Semelhante é: igual, da mesma natureza, da mesma qualidade. Mesmo entendendo que o vocábulo Semelhança não é perfeitamente sinónimo de Idêntico temos que:

Amar Deus é igual a amar o próximo
Amar Deus é da mesma natureza que o amor ao próximo
Amar Deus é da mesma qualidade que amar o próximo
Ou seja, amar Deus não é o mesmo que amar o próximo mas é quase :)

Segundo: Sacramento significa sinal. Ou seja, nos sacramentos que se acumulam, repetem e perpetuam ao longo da nossa vida de católicos, é possível ver a presença de Deus. Isto deve ensinar-nos que Deus se manifesta no amor famíliar (matrimónio e baptismo), quando perdoamos ou somos perdoados (reconciliação e unção dos doentes), quando nos comprometemos e relacionamos com uma comunidade (crisma, ordem e eucaristia).
Em todos eles, há uma constante: uma relação e/ou um compromisso com uma comunidade ou uma pessoa.

Terceiro: Deus é, por natureza, absoluto. Beleza, paz, liberdade, verdade e sabedoria são conceitos de natureza divina. Tal como o amor. É a ausência progressiva de cada um desses conceitos nas nossas vidas que vai criando espaço para o que é feio, para a guerra e para o conflito, para a tormenta, para a incerteza e a falta de rumo e para o ódio e o rancor. 
Portanto, a ânsia pelo que é belo, pela paz, pela liberdade e pelo conhecimento é ânsia, em última instância, por Deus.

CONCLUSÃO
Posto tudo isto, e pegando na provocação inicial, como é possível amar Deus mais que aos próprios filhos? É possível no sentido em que ao amar os nossos filhos estamos a amar Deus. Ora se a isto, juntarmos o amor que sentimos pelo resto da nossa família e dos nossos amigos, os gestos de ajuda e caridade para com o próximo, o perdão a quem nos ofende, o amor a causas como a liberdade ou a paz, a contemplação e o deslumbramento pela natureza que é reflexo de Deus, o respeito pelos compromissos e a palavra dada, não é difícil concluir que o amor por Deus é bem maior que o amor pelos filhos.

É ou não é genial este mandamento?


Não foi fácil para mim deixar este assunto assim tão pela rama, e com ausência de outras considerações, tão ou mais importantes que as utilizadas, mas para o efeito foi conclusivo.

domingo, 11 de março de 2012

Uma nova forma de estar

Se estiveste atento, deves ter reparado que não escrevo aqui nada há algum tempo.

Por um lado, não tenho tido muitos temas que me dêem vontade de reflectir. Por outro, quis experimentar, por uma vez, não oferecer respostas, mas antes dar azo ao uso da razão. Por se tratar de uma forma completamente diferente de comunicar, achei melhor começar outro blogue.

Por isso, até que surja nova tema, vou-me dedicando às histórias.

Podes consultar aqui: