Tenho uma pequena alergia de estimação por psicólogos. Chego inclusivamente a fazer um trejeito facial quando ouço a palavra.
Normalmente associam essa minha atitude a um certo e determinado grau de loucura. Mas é sempre seguido de espanto e incredulidade. Como é possível alguém ser contra a psicologia? Se não fosse possível eu não existiria. Como existo, é sinal que deve haver algum motivo.
Penso que não foi um dia de manhã, ao acordar, que pensei nisso, mas andou lá perto. E as culpadas por esta ideia são as famílias no concreto, ou a sociedade no geral. E um ponto de partida foi a seguinte constatação: "antigamente, quando os filhos se portavam mal, levavam dois tabefes; hoje em dia, levam-se ao psicólogo".
E este é o cerne da minha alergia. Não é a valia que um tratamento psicológico pode trazer em caso de traumas. Mas a atitude das pessoas perante a psicologia: "Há um problema? Leva-se ao psicólogo!" Já não é a primeira vez que digo aqui, que há pais que se demitem da sua tarefa de educar e passam-na para os professores e para os psicólogos. As teorias educacionais modernas são importantes, mas levadas ao extremo assustam-me. Porquê? Porque revogam mais de seis mil anos de experiência, com bons resultados.
Um bom exemplo daquilo que quero dizer é a seguinte situação. O pai diz que o filho não pode fazer aquilo. O filho faz. O pai dá-lhe uma palmada. A teoria moderna diz que o pai, primeiro, deveria ter explicado ao filho o porquê de não poder fazer aquilo, e depois deveria ter repreendido com firmeza, castigando com a privação de algo que ela goste, mas sem palmada, porque não é tão traumatizante.
Qual é o meu problema perante esta argumentação? Antes de mais tenho uma divergência teórica: antes da criança agir ou deixar de agir devido ao motivo, deve fazê-lo porque é lhe é dito pelos pais. A explicação do motivo é secundária. Faz parte da educação das regras e dos valores, é impossível ser feito no imediato, deve acontecer ao longo de toda a infância. Se o pai manda, a criança deve obedecer e só depois questionar o porquê. Mas sobretudo, tenho problema com a aplicabilidade. Se já foi a 30ª vez que o filho fez aquilo, já está careca de saber que não deve e o porquê. Da minha experiência, a minha filha passa a vida a repetir os mesmos erros. Será que é necessário repetir a lengalenga sempre todas as vezes? Muitas das vezes o motivo ainda não é perceptível para ela, por isso é irrelevante. Depois, há castigos que não podendo ser aplicados imediatamente perdem efeito. Ela fica confusa quando lhe aplico um castigo por algo que ela fez no dia anterior.
Para mim, a psicologia é fundamental no tratamento de traumas e casos clínicos na generalidade. Tem alguma validade na orientação social, na gestão humana e organizacional e é tudo.
Para terminar, deixo-te com uma imagem parcial, ignorante e satírica da psicologia. Como é um psicólogo pode orientar se não pode interferir com a decisão, valores e moral do paciente?
Orientar implica indicar um rumo ou, no mínimo, apontar os vários pontos cardeais para que a pessoa se posicione. Mas não será o norte já um julgamento subjectivo do psicólogo?
Ajudar uma pessoa a encontrar o rumo por si própria é meritório, mas não seria mais fácil se se pudesse fechar logo à partida algumas portas?
Sem comentários:
Enviar um comentário