quinta-feira, 1 de julho de 2010

A Igreja está pelas horas da morte

Acreditando nos alvitres do meu querido colega de trabalho, eu sou um enganado e a Igreja vai acabar por causa de pessoas como eu.
Passo a explicar melhor, segundo ele, eu engulo tudo aquilo que a Igreja diz sem pensar. E é por minha causa e de pessoas como eu que só dizem sim sim, e não conseguem ser críticos que a Igreja vai acabar. Diz ainda que todos deviam ser como ele que põe em causa o que lhe dizem, a menos que existam provas científicas.

E qual foi a última prova de que a Igreja está errada e está a esconder a verdade às pessoas que ele encontrou? Um livro que defende a tese do casamento de Jesus com Maria Madalena e que terão deixado descendência. É científico e de tal modo verdadeiro que até tem citações dos evangelhos que comprovam os argumentos.
Portanto, a Igreja sabe isto, e tem estes documentos escondidos das pessoas nos arquivos do Vaticano.

É claro que eu lhe disse imediatamente que se ele queria mais factos destes deveria ler o livro "O sangue de Cristo e o Santo Graal", uma obra de investigação publicada na década de 80, que se não estou em erro, foi a primeira a conjecturar esta teoria. Aí é que qualquer réstia de dúvida que a Igreja é uma instituição cheia de segredos podres, desaparecia num ápice.

Qualquer teólogo conseguiria desmascarar estas questões com meia dúzia de palavras, normalmente eu também consigo, mas por uma razão que não consigo perceber, é-me impossível transmití-lo ao meu colega. Primeiro porque segundo ele, não é por eu estar metido dentro da Igreja que sei mais do que ele, até pelo contrário, pois como já referi, isso embrotece-me os sentidos.
E mesmo que eu lhe prove que é por A + B que eu acredito em algo, com sorte obtenho como resposta: "isso não é bem assim".
Já lhe tentei explicar algumas vezes os critérios que os pais da Igreja utilizaram para escolher os evangelhos canónicos, mas surge quase sempre a questão dos outros evangelhos que a Igreja não aceita e que deveria aceitar já que são contemporâneos (mais século menos século) e que não aceita porque não lhe convém.
Enfim, é complicado, mas ao mesmo tempo estimulante. Não troco uma discussão nossa por nada. Num momento estamos aos berros, noutro estamos a gargalhar.

Mas levanto estes factos que se passaram comigo para provar uma tese: a igreja está de facto pelas horas da morte.
Da parte que me toca, espero que ela morra e fique bem enterrada.
O QUÊ? EXCUMUNHÃO!!!!! COMO PODES DIZER ISSO?
Bem, posso dizer e digo sem medo. Mas antes da explicação, um pouco de história:

Desde que Constantino adoptou o cristianismo como religião oficial romana, que esta nova religião teve um crescimento exponencial.
A Igreja foi fundada para permanecer no tempo, para guardar e anunciar a Boa-Nova. E a mal ou a bem, tem-no feito.
Existiram momentos conturbados nesta expansão católica. Durante muito tempo a religião foi imposta, houve perseguições, existiram abusos.
À luz dos nossos dias, estas acções são brutalmente repugnantes, mas à luz dos dias em que os factos se deram, era assim que as pessoas viviam. Era assim que as pessoas governavam.
Este legado, transformou uma religião atractiva, numa religião tradicionalista, mística, monótona e monocórdica. Sucederam-se cisões no cristianismo, fruto do misticismo e do ostracismo a que a elite da igreja votou as populações. No fundo, creio que a igreja teve durante muito tempo medo da deturpação da doutrina. Com tantos milhões de fiéis, a heresia espreitava a cada esquina que tentasse açambarcar a Palavra para si e à sua maneira. Além disso, todas ânsias e dúvidas encontravam resposta no misticismo criado. Era a Igreja possível.
Mais recentemente no Ocidente, a ciência tomou a supremacia sobre a religião, a politica e a governação sobrepuseram-se à religião, relegando-a para a mera escolha pessoal, livre e arbitrária. De repente (olhando cronologicamente, claro), a Igreja foi recauchutada para longe da ribalta, dos meandros do poder, acusada de milhares de perfídias presentes e passadas, apelidada de retrógrada, condenada à extinção.
Tudo isto visto de fora.
Até visto por dentro as coisas não parecem famosas.
- os pais querem baptizar os filhos e os padres só arranjam entraves, exigem padrinhos xpto, uma complicação!; Não admira que
- as assembleias estejam a ficar cada vez mais vazias, cada vez há menos pessoas a frequentarem a igreja;
- uma pessoa vai à missa só dá vontade de dormir. Ninguém percebe o que se lá passa;
- uma pessoa quer ter uma vida normal, mas não se pode usar preservativos nem pílulas;
- cada vez há menos padres e não os deixam casar;
- porque é que a igreja não evolui?

De facto, parece-me que a igreja está pelas horas da morte, não te parece?
E agora a explicação.
Desejo ardentemente que este conceito de igreja morra, deixe de existir. Que a forma com que o meu colega vê a Igreja desapareça. Há tanto preconceito contra a Igreja que não permite a quem está de fora olhar para o que verdadeiramente importa. Mesmo para quem olha por dentro, as coisas parecem deslocadas, fora do tempo.
É tudo isto que eu desejo que desapareça. Esta ideia de Igreja que simplesmente não é e, provavelmente nunca foi.
A Igreja que eu conheço é enérgica, viva, renovadora, atractiva, mobilizadora, caridosa e acolhedora. Só fala de Verdade e Amor e não se impõe.
Felizmente, o contexto actual laico é propício a voltarmos às origens, onde as comunidades cristãs eram pólos de atracção. A tradição associada às multidões e ao conformismo, resulta numa Igreja letárgica. Chega de pessoas que vão à igreja porque é tradição, vão à missa porque foi assim que foram ensinadas. Chega de pessoas que só sabem olhar aos defeitos do passado. Chega de intolerância para a mensagem católica: não é uma proposta para todos, é para alguns, e mesmo para esses é desafiante e difícil de cumprir. Chega de opinar sobre o que não se conhece e porventura não se percebe.
A Igreja vive por Cristo, e tanto quanto me diz respeito, só quem se sente atraído por Cristo conhece a verdadeira Igreja. Só quem se deixa apaixonar por Ele, é que conhece a verdadeira razão de viver. E os que vivem deste modo, vivem tão intensamente, que são faróis brilhantes nesta sociedade, e arrastam consigo muitos outros.
É por isso que a Igreja nunca morrerá. Porque Cristo continua tão apaixonante hoje como no princípio, quiçá talvez mais. Basta que se limpe os óculos do preconceito, que por trás logo se vislumbra esta Igreja. Tudo mais, pode morrer que não faz cá falta nenhuma.



1 comentário:

  1. Sempre radical :) Sim, também não reconheço a Igreja de que as pessoas falam, nem sequer sei se é o mesmo Deus. Simplesmente porque quem não conhece nem devia falar. E isto inclui pessoas que andam dentro da igreja, infelizmente. Mas nós divertimo-nos com certos comentários, não é?
    Dar testemunho da Luz? Que Luz? A que não vêem nem nunca viram? Aquela ofuscante que nunca me deixa indiferente? Não deve ser a mesma :) Cristo não é uma moda, não «fica» bem, é Vida.
    Continua a escrever. Sempre.

    Um beijinho

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