quinta-feira, 29 de julho de 2010

As impertinências do contexto histórico

Às vezes oiço comentários, leio livros ou vejo documentários que retratam relatos negros na história da humanidade. Frequentemente existe o mau e, do outro lado, a vítima. Nunca te aconteceu ver um documentário sobre alces, por exemplo, no qual ficas tão triste quando aparece um leão que come o alce ou a cria do alce? Eu já. Mas sei também que já vi documentários sobre a vida dos leões, e fico triste quando percebo que a caça tem estado fraca e fico contente quando finalmente o leão apanha um alce para se alimentar a si e aos filhos, após uma semana de jejum.
Este contraste faz-me pensar na diferença que faz à minha cabeça uma simples mudança de observado. Perante a mesma cena, um leão que caça um alce, a minha simpatia pende para o lado que estou a observar.
A partir deste exemplo gostaria de fazer uma analogia com as tais situações e histórias negras no passado das civilizações.
Um exemplo: Marquês de Pombal
- Para os estudiosos e simpatizantes das suas obras, o Marquês de Pombal foi um homem muito à frente no seu tempo, que fez obras notáveis;
- Mas na perspectiva popular, o despotismo com que exerceu o seu governo foi uma mancha negra numa página da história de Portugal;
Segundo exemplo: Salazar
- Como é possível que haja pessoas saudosas do tempo da ditadura do Salazar? Porque para eles os benefícios contíguos à liberdade de expressão e associação, não compensaram os problemas que advieram com a democracia.
Existem muitos outros exemplos que eu poderia citar, incontáveis, onde a nossa simpatia tenderia consoante o objecto analisado e o preconceito do analista. Isto é, um documentário sobre Salazar pode ser abonatório da sua obra, ou pelo contrário, endemoninhá-lo consoante seja o objectivo do jornalista.

Agora coloco uma questão muito pertinente:
Existe alguma diferença entre o Salazar e o Marquês de Pombal? Na minha opinião, poucas. Ambos afastaram opositores e detractores e abusaram do poder para perpetuar a governação e manipular o povo.
Mas existe uma pequeníssima diferença que, para mim, é suficiente para exaltar o Marquês de Pombal e condenar o Salazar: o contexto histórico.
O primeiro governou no século XVIII e o segundo em pleno século XX. A diferença seria ainda mais substancial se estivéssemos a falar de um regente do século XII ou anterior e outro do século XXI. O que quero dizer com isto é, o primeiro, à parte a sua genialidade, limitou-se a governar com um pouco mais de zelo mas sem fugir ao que era expectável numa governação monárquica. A eliminação sistemática dos opositores é uma lenga lenga repetitiva nas páginas das histórias de todas as nações.
Quando é que surge a viragem? Em pleno século XX, a consagração dos direitos humanos, o fim da escravatura, a exaltação da dignidade humana. Salazar governou, portanto, num contexto entre democracias, onde se começou a encarar o ser humano numa perspectiva mais digna e humanista, e cujos actos foram mais despropositados e, por conseguinte, condenáveis.

Posto isto, carece-me chamar a atenção para uma prática que vejo frequentemente, e cuja objectividade é inexistente ou, pelo menos, parcial:
Quando se misturam cenários de séculos passados com moralidade do século vinte, ou cenários de outras culturas com a moralidade do ocidente. Isto é muito grave, pois facilmente induz o leitor em erro.
Um senhor decide expropriar a terra de um fazendeiro (cenário muito hollywoodesco, eu sei) em proveito de um nobre devido ao direito de sucessão não ser pago. Aos olhos do século XXI, este acto é uma tremenda injustiça, mas para viveu naquela época este era o pão nosso de cada dia. Era comum os senhores fazerem isto pelos mais diversos motivos. E quem diz isto, diz todo o género de injustiças. O escárnio e o ostracismo dos que eram diferentes; a não aceitção e a perseguição da mudança, o medo do incompreendido. Ainda não existia a distinção entre o acto e a natureza do actor. Não era o acto de deveria ser condenado, era o próprio actor que era condenado. Não havia distinção entre roubo e ladrão.
Vou dar apenas mais um exemplo:
Quando estive em Moçambique fui confrontado com a corrupção visível dos polícias. Neste caso em concreto, dos polícias de transito. É normal que o polícia de transito tente extroquir sempre algum dinheiro aos condutores. Principalmente àqueles que visivelmente transgridem as regras e aos estrangeiros. A princípio fiquei chocado porque os meus valores condenam aquele tipo de actuação. Mas tudo ficou mais claro para mim, quando percebi que não era aquele ou aqueles polícias em particular que faziam aquilo, mas se tratava simplesmente de uma situação/oportunidade que aquela profissão proporciona e que o polícia administrativo que passa o dia a fechar envelopes anseia por lhe tomar o lugar quando surgir uma vaga, para fazer exactamente o mesmo.

Porquê "impertinências do contexto histórico"? Onde é que entraria o romance nas cruzadas, na inquisição ou nas perseguições religiosas, se fosse respeitado o contexto? Não entraria. Tratar-se-ia simplesmente de uma tese antropológica ou sociológica. Por isso, o contexto histórico ou cultural é impertinente quando se pretende tratar destes assuntos de forma a condenar a acção de uma das partes.
Por muito que me custe admitir a Inquisição e outros erros da Igreja Católica, devo ser capaz de relativizar a acção para o respectivo contexto e não trazê-lo à luz do meu mundo. Neste sentido, as acções inquisitórias quase se tornam obvias. Era assim que os homens que detinham o poder lidavam com os problemas. Não havia a dignidade humana. A liberdade é um conceito que ganha corpo apenas na revolução francesa. Isto é, um conceito 5 a 6 séculos posterior (refiro-me ao inicío de ambos. É obvio que a inquisição do séc XVII em Portugal, nada tem a ver com a Inquisição romana do séc XII, nem os frutos da revolução francesa foram imediatos). Onde é que está, por isso, a justiça na critica à Inquisição? Normalmente guardada numa gaveta, trancada e sem chave. O romance assim o exige.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Homossexualidade - um ensaio

Não há muito tempo dizia-se que a homossexualidade era um comportamento desviante, com quadro clínico próprio. Tanto quanto o suícidio, a pedofilia, o sadismo, etc...
Actualmente esse diagnóstico foi alterado, para uma simples preferência sexual, ao mesmo nível que um homem pode preferir loiras a ruivas.
Mas há uma coisa que eu não percebo. Se "já" não há qualquer patologia associada à homossexualidade, qual é o papel das hormonas masculinas na minha sexualidade? Não serão elas as responsáveis por perder o fôlego quando vejo uma mulher lindíssima, ou sentir desejo por vislumbrar a nudez de uma mulher e, ao mesmo tempo, ficar indiferente com os mesmos atributos num homem? Logo, não será a falta destas hormonas, ou a inactividade delas, uma patologia?
Ou serão estas minhas sensações e reacções apenas fruto do contexto sociológico? Admito que a repugnância que sinto ao ver dois homens aos beijos seja preconceito social. Mas ao ponto de me quererem fazer acreditar que não há nada de errado com um individuo se sente atraído por alguém do seu género, já me parece propaganda nazi.
Mais ainda se pensar que um acto sexual desta natureza é prejudicial à saúde, pelo menos no caso masculino. Julgo não estar enganado ao afirmar que o sexo anal é prejudicial quando praticado regularmente.
Gostava ainda de não me escudar na naturalidade para argumentar contra a homossexualidade, mas é incontornável. Quer se creia ou não em Deus, é indiscutível a complementaridade entre homem e mulher. De uma relação homossexual nenhum fruto pode ser esperado. É uma relação estéril. Primeiro porque é impossível gerar filhos, crianças, o maior bem da humanidade; segundo, (algo subjectivo e argumentativo, mas sobejamente empírico, parece-me) porque a aproximação emocional entre dois indivíduos do mesmo sexo é de uma substância diferente da de dois indivíduos de género diferente. Normalmente o que num é fortaleza noutro é fraqueza e vice-versa. Por isso, complementam-se. Dentro do mesmo género, a compreensão é a única vantagem intrínseca, pois embora partilhem as mesmas fortalezas, padecem das mesmas fraquezas mentais e físicas.

Posto isto, devo dizer que não sou contra, nem condeno os homossexuais. Mas tão simplesmente a homossexualidade. É o acto que repugna, não a natureza.

Agora sobre a legislação do casamento gay.
O que poderá levar então uma sociedade a legalizar e a atribuir direitos a uma união que aparentemente é prejudicial à saúde (pelo menos para os homens) e que causa aversão a uma parcela da população?
O que poderá ter mudado numa sociedade que durante séculos condenou e marginalizou a homossexualidade?
O que poderá ter levado um Estado a legislar controversamente em nome da discriminação, mas não conferindo qualquer privilégio ou benefício relevante?

Já ouvi várias vezes o argumento da igualdade. Tudo bem. Fiquem lá com a bicicleta. Já me canso de rebater esse argumento.
A minha resposta é simples. Tratou-se apenas de uma operação que maquilhagem, sob pressão de um loby, que serve de porta de entrada com vista a um objectivo maior.
Se a luta era pela igualdade, não vos parece que a discriminação passou a ser ainda mais acentuada, ficando plasmada na legislação?
Qual discriminação? Ora, o casamento em si nada trouxe de relevante à comunidade gay, além de poder ficar com um carimbo no papel. Se eu fosse um puritano gay, ficaria revoltado por me estarem a atirar areia para o olhos. Pois permitem-me ir a uma conservatória assinar uns papéis, mas depois não me permitem adoptar ou ter filhos por via de inseminação artificial ou outras moralmente ainda mais duvidosas. Isso sim, seria igualdade.
O Estado ao não permitir a filiação a um casal homossexual está, por um lado, a espelhar a vontade da sociedade que não admite uma criança criada por dois pais ou duas mães - existe o reconhecimento de um trauma que afecta as crianças criadas sem mãe ou sem uma figura paternal. Em última análise, esta vontade social pode também reflectir uma previsão em que a criança adoptada será alvo da crueldade dos seus colegas, que é própria nas crianças e forma natural de reagir ao que é diferente - e; por outro lado, está a admitir a diferença, a não naturalidade, do casamento gay. Ou dito de outra forma, embora admita o argumento da igualdade, ainda não pode admitir o argumento da liberdade individual pelo facto que poder estar a interferir com a liberdade da criança.

Então porque é que esta lei tão estranha existe? Porque o loby gay sabe perfeitamente que bastam mais uns anos para infundir na consciências dos jovens a imagem de naturalidade na adopção por um casal gay, da inevitabilidade do progresso social e da desigualdade e injustiça existente por tal ainda não ser possível. O bem que faria à quantidade de crianças que estão por adoptar. Passados esses anos, bastará aguardar por um novo governo de esquerda para ressuscitar o debate e voilá. Logo, esta foi uma grande vitória.
Não é difícil deixar-se enganar por este último argumento. Mas eu desafio cada um que acha que há muitas crianças à espera de serem adoptadas, como se vê nos filmes, a inteirar-se sobre a realidade da adopção em Portugal. Garanto que ficaria com uma imagem muito diferente. A lista de espera de casais à espera para adoptar é enorme e antiga. Conheço um casal que, pelas minhas contas, já deve estar há mais de 4 ou 5 anos à espera. E de todas as crianças que estão nos orfanatos e casas de acolhimento, apenas uma percentagem pode ser adoptada, pois muitas ainda têm pais vivos, que por se manterem por perto, vão reclamando o direito de paternidade, embora sem o assumirem.

Adiante,
se o debate social é previsível, devo confessar que fiquei surpreendido pela posição de algumas pessoas católicas.
Desde que os gays não venham reivindicar um casamento religioso, é-lhes indiferente que o façam no civil. Ressalvando apenas a condenação da adopção.
Verificar esta atitude é doloroso para mim. Porque reflecte aquela máxima, completamente contra a mensagem cristã: "deixem-me cá sossegado no meu cantinho. Desde que não me venham importunar está tudo bem." Como é que eu posso defender uma coisa dentro da minha comunidade e depois defender outra lá para fora? Ao defender esta posição, estão a admitir que deve existir uma comunidade católico-religiosa e outra comunidade ateio-civil. Isto é, que devem agir de uma forma quando estão em actividades ou grupo católicos, e agir de outra forma quando não estão. Ou pior, que não se devem responsabilizar pelo que não lhes diz respeito. Por esta via de pensamento, a caridade está por um fio...

Foram muitos pontos de vista. Talvez não brilhantemente expostos, mas acho que reuni todos os meus argumentos sobre esta temática.

Em jeito de conclusão, deixo uma questão no ar, tão despropositada quanto inútil:
Em teoria, admitindo a liberdade individual como bem intocável, como é que um estado que aprova uma lei deste género, bem como o aborto, condena a poligamia? Na minha opinião, os muçulmanos teriam toda legitimidade para exigir a abolição da monogamia. Não encontro quaisquer argumentos sociais contra. Desde que exista mútuo consentimento de todos os envolvidos e sejam maiores de idade... não achas?

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Aborto

Agora que já não existem penalizações para quem recorre a aborto, estando longe do lume que se gerou com esta questão, gostaria de tecer alguns comentários.

Cada vez mais me parece que a discussão à volta do aborto foi, é e será uma discussão virtual.
Eu sei que nem toda a gente consegue ser tão radical como eu, mas nesta discussão existe um ponto de partida, do qual não abdico.
A partir de quando é que o feto se transforma numa vida humana?
A partir de quando é que o feto passa a ter direitos distintos do da mãe?
Querem debater, então debatam estas questões.
Para mim é claro que o feto é uma vida humana a partir da concepção. Tanto quanto um bebé que acaba de nascer.
Existe uma questão debelatória de consciência: o feto nada sente até à 24 semanas de gestação por não ter sistema nervoso. Para os apoiantes do aborto, este parece ser o prazo moralmente aceite. Penso que isto quer dizer que passa de feto a ser humano quando ganha a capacidade se sentir. É um argumento válido. Embora ridículo. Qualquer médico do mundo consegue anestesiar qualquer ser vivo, de forma a não sentir dor. Aumentar o prazo moral das 24 semanas para as 32 ou 36 por este motivo seria perfeitamente válido. O problema é que com este tempo de gestação, o feto já se parece com um bebé. Já está totalmente formado. E aqui já não existe argumento que aplaque a consciência. Portanto, de todos os males o menor: para ter a certeza que o feto ainda não sente e ainda não se parece totalmente com um bebé, decidimos 10 semanas de gestação.
Mas não é por estas considerações que eu vejo o debate sobre o aborto como um debate virtual.
O grande argumento a favor do aborto creio ser a questão da felicidade da criança, das condições de vida que aquele bebé irá ter. Isto decorre de situações como pobreza, pais em idade juvenil, pais viciados ou com problemas e outras situações derivadas.
Façam um inquérito a jovens e adultos que nasceram e cresceram nestes contextos familiares e perguntem-lhes quem preferia não ter nascido. Quem preferia nem sequer ter tido a oportunidade. Julgo que uma pequena minoria preferia ter sido um aborto. À grande maioria, simplesmente ter-lhes-ia sido negada a possibilidade.
Esta é que é a virtualidade: as crianças que sofrem, podem não advir destes contextos, nem todas as crianças destes contextos sofrem. É estarmos a pôr uma chancela de infelicidade naqueles bebés e nem sequer lhes dar a oportunidade.
É claro que eu não suporto ver uma criança sofrer, mas quem sou eu para decidir à priori se aquela criança vai ou não ser feliz?

Outro grande argumento é a precariedade com que as mulheres acabavam por fazer abortos, aquelas que não tinham dinheiro para ir fazê-los a clinicas em Espanha.
Agora façam outro inquérito: quais os perfis das mães que vão a clínicas abortar? Que percentagem se insere no perfil demagógico? Suponho que uma minoria.

O único argumento que considero válido é aquele em que a mãe achando que o feto é uma parte de si e não um ser independente, tem o direito de fazer com ele o que quiser, até que o resto da sociedade advogue direitos ao bebé, e se responsabilize por ele, mesmo que seja contra a mãe, que segundo a lei é a partir das 00h00 das 10 semanas. Até lá, só tem que se agarrar aos tampões de consciência que mencionei no princípio.

Em resumo: ou pegamos num argumento ridículo e arbitrário ou virtualizamos a questão. Assim falamos nós de aborto, aliás, interrupção voluntária da gravidez.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

A Igreja está pelas horas da morte

Acreditando nos alvitres do meu querido colega de trabalho, eu sou um enganado e a Igreja vai acabar por causa de pessoas como eu.
Passo a explicar melhor, segundo ele, eu engulo tudo aquilo que a Igreja diz sem pensar. E é por minha causa e de pessoas como eu que só dizem sim sim, e não conseguem ser críticos que a Igreja vai acabar. Diz ainda que todos deviam ser como ele que põe em causa o que lhe dizem, a menos que existam provas científicas.

E qual foi a última prova de que a Igreja está errada e está a esconder a verdade às pessoas que ele encontrou? Um livro que defende a tese do casamento de Jesus com Maria Madalena e que terão deixado descendência. É científico e de tal modo verdadeiro que até tem citações dos evangelhos que comprovam os argumentos.
Portanto, a Igreja sabe isto, e tem estes documentos escondidos das pessoas nos arquivos do Vaticano.

É claro que eu lhe disse imediatamente que se ele queria mais factos destes deveria ler o livro "O sangue de Cristo e o Santo Graal", uma obra de investigação publicada na década de 80, que se não estou em erro, foi a primeira a conjecturar esta teoria. Aí é que qualquer réstia de dúvida que a Igreja é uma instituição cheia de segredos podres, desaparecia num ápice.

Qualquer teólogo conseguiria desmascarar estas questões com meia dúzia de palavras, normalmente eu também consigo, mas por uma razão que não consigo perceber, é-me impossível transmití-lo ao meu colega. Primeiro porque segundo ele, não é por eu estar metido dentro da Igreja que sei mais do que ele, até pelo contrário, pois como já referi, isso embrotece-me os sentidos.
E mesmo que eu lhe prove que é por A + B que eu acredito em algo, com sorte obtenho como resposta: "isso não é bem assim".
Já lhe tentei explicar algumas vezes os critérios que os pais da Igreja utilizaram para escolher os evangelhos canónicos, mas surge quase sempre a questão dos outros evangelhos que a Igreja não aceita e que deveria aceitar já que são contemporâneos (mais século menos século) e que não aceita porque não lhe convém.
Enfim, é complicado, mas ao mesmo tempo estimulante. Não troco uma discussão nossa por nada. Num momento estamos aos berros, noutro estamos a gargalhar.

Mas levanto estes factos que se passaram comigo para provar uma tese: a igreja está de facto pelas horas da morte.
Da parte que me toca, espero que ela morra e fique bem enterrada.
O QUÊ? EXCUMUNHÃO!!!!! COMO PODES DIZER ISSO?
Bem, posso dizer e digo sem medo. Mas antes da explicação, um pouco de história:

Desde que Constantino adoptou o cristianismo como religião oficial romana, que esta nova religião teve um crescimento exponencial.
A Igreja foi fundada para permanecer no tempo, para guardar e anunciar a Boa-Nova. E a mal ou a bem, tem-no feito.
Existiram momentos conturbados nesta expansão católica. Durante muito tempo a religião foi imposta, houve perseguições, existiram abusos.
À luz dos nossos dias, estas acções são brutalmente repugnantes, mas à luz dos dias em que os factos se deram, era assim que as pessoas viviam. Era assim que as pessoas governavam.
Este legado, transformou uma religião atractiva, numa religião tradicionalista, mística, monótona e monocórdica. Sucederam-se cisões no cristianismo, fruto do misticismo e do ostracismo a que a elite da igreja votou as populações. No fundo, creio que a igreja teve durante muito tempo medo da deturpação da doutrina. Com tantos milhões de fiéis, a heresia espreitava a cada esquina que tentasse açambarcar a Palavra para si e à sua maneira. Além disso, todas ânsias e dúvidas encontravam resposta no misticismo criado. Era a Igreja possível.
Mais recentemente no Ocidente, a ciência tomou a supremacia sobre a religião, a politica e a governação sobrepuseram-se à religião, relegando-a para a mera escolha pessoal, livre e arbitrária. De repente (olhando cronologicamente, claro), a Igreja foi recauchutada para longe da ribalta, dos meandros do poder, acusada de milhares de perfídias presentes e passadas, apelidada de retrógrada, condenada à extinção.
Tudo isto visto de fora.
Até visto por dentro as coisas não parecem famosas.
- os pais querem baptizar os filhos e os padres só arranjam entraves, exigem padrinhos xpto, uma complicação!; Não admira que
- as assembleias estejam a ficar cada vez mais vazias, cada vez há menos pessoas a frequentarem a igreja;
- uma pessoa vai à missa só dá vontade de dormir. Ninguém percebe o que se lá passa;
- uma pessoa quer ter uma vida normal, mas não se pode usar preservativos nem pílulas;
- cada vez há menos padres e não os deixam casar;
- porque é que a igreja não evolui?

De facto, parece-me que a igreja está pelas horas da morte, não te parece?
E agora a explicação.
Desejo ardentemente que este conceito de igreja morra, deixe de existir. Que a forma com que o meu colega vê a Igreja desapareça. Há tanto preconceito contra a Igreja que não permite a quem está de fora olhar para o que verdadeiramente importa. Mesmo para quem olha por dentro, as coisas parecem deslocadas, fora do tempo.
É tudo isto que eu desejo que desapareça. Esta ideia de Igreja que simplesmente não é e, provavelmente nunca foi.
A Igreja que eu conheço é enérgica, viva, renovadora, atractiva, mobilizadora, caridosa e acolhedora. Só fala de Verdade e Amor e não se impõe.
Felizmente, o contexto actual laico é propício a voltarmos às origens, onde as comunidades cristãs eram pólos de atracção. A tradição associada às multidões e ao conformismo, resulta numa Igreja letárgica. Chega de pessoas que vão à igreja porque é tradição, vão à missa porque foi assim que foram ensinadas. Chega de pessoas que só sabem olhar aos defeitos do passado. Chega de intolerância para a mensagem católica: não é uma proposta para todos, é para alguns, e mesmo para esses é desafiante e difícil de cumprir. Chega de opinar sobre o que não se conhece e porventura não se percebe.
A Igreja vive por Cristo, e tanto quanto me diz respeito, só quem se sente atraído por Cristo conhece a verdadeira Igreja. Só quem se deixa apaixonar por Ele, é que conhece a verdadeira razão de viver. E os que vivem deste modo, vivem tão intensamente, que são faróis brilhantes nesta sociedade, e arrastam consigo muitos outros.
É por isso que a Igreja nunca morrerá. Porque Cristo continua tão apaixonante hoje como no princípio, quiçá talvez mais. Basta que se limpe os óculos do preconceito, que por trás logo se vislumbra esta Igreja. Tudo mais, pode morrer que não faz cá falta nenhuma.