terça-feira, 30 de novembro de 2010

O Pecado

Muitas vezes tive que explicar o que é o pecado original. Acredites ou não, a grande maioria dos católicos faz uma ideia errada do Pecado Original. Os meu preferidos são: "sexo", "desobediência a Deus" e "tentação". (Se achavas que pelo menos um destes termos é o Pecado Original, é apenas sintoma que tens de te informar melhor).
O intuito deste post não é definir o pecado original, apenas salientei estes factos para expôr uma teoria: Uma grande maioria de nós católicos tem um concepção errada de pecado e lida com ele de forma equívoca, a começar por aqueles que acham que "tentação" e "sexo" são pecado.
Na tentativa de amenizar esta critica directa à minha família católica, afirmo sem pudor que o desconhecimento é bem maior por entre os agnósticos e ateus que gostam de criticar a Igreja. E como toda a gente sabe, criticar-se algo que não se conhece é... hum, qual é a palavra?,... ah, sim... estúpido!

Voltando ao pecado; como é possível alguém pensar que "sexo" e "tentação" são o pecado original, se não são, de todo, pecado? É simples: há uma grande distorção ideológica, falsos pressupostos e péssimos catequistas por este país fora.
Na prática, pecado é tudo o que me afasta de Deus. Logo, é impossível conceber uma verdadeira noção de pecado, sem conhecer minimamente Deus. E quando falo em conhecer, não estou a incluir o "ouvi falar tanto, que até parece que O conheço". O que se deduz destas premissas é que, ter uma concepção de pecado equívoca, significa um deficiente conhecimento de Deus. Se a minha afirmação inicial for verdadeira (que a grande maioria dos católicos têm uma ideia errada de Pecado Original), não consigo deixar de me questionar que católicos temos nós na Igreja afinal, que cá fazem e o que os mantém por cá?

Continuando a teorizar, a minha intuição diz-me que o pensamento comum entre os católicos é que o pecado é mau, logo, deve ser combatido, posto de lado e esquecido. É um bicho papão que nos empurra para o inferno.

Isto deixa-me profundamente pensativo quanto à vida que os meus irmãos católicos vivem. Sejamos objectivos: há alguém isento de erro? Claro, os que não têm noção do bem e do mal. Todos os outros, aqueles que conseguem apontar um defeito no sujeito A, no político B e no trabalhador C, por natureza, são pecadores.
Segundo ponto: dos pecados que tomamos consciência, de quantos não conseguimos fugir? E se não consigo fugir, o que é que adianta culpabilizar-me? Martirizar-me por algo a que não consigo fugir é burrice do católico. A santidade exige-nos a aceitação da diferença dos outros, das suas fraquezas e dos seus dias maus. Na mesma medida, temos que aceitar as nossas faltas. Resignarmo-nos? Não. Simplesmente aceitar que há coisas que ainda não conseguimos fazer ou deixar de fazer, e, como qualquer criança, manter o desejo de crescer, ser mais forte e chegar mais longe.

Quando deixo que o pensamento nas minhas falhas crónicas me afaste da alegria, estou a tornar esse erro maior do que ele é. É um facto que Cristo espera de mim a santidade, mas seria tolice pensar que Ele espera que o façamos de um dia para o outro.

Finalmente, como referi atrás, só é possível saber exactamente o que nos afasta de Deus, se soubermos onde Ele está. Isto não é nenhum ensinamento da Igreja, é uma constatação lógica a partir de "pecado é tudo o que resulta no afastamento de Deus". E não há duvida alguma que quanto melhor O vou conhecendo, mais vontade vou tendo de não me afastar e, ao mesmo tempo, me vou sentindo mais amado e me tornando no maior de todos os pecadores.



quinta-feira, 29 de julho de 2010

As impertinências do contexto histórico

Às vezes oiço comentários, leio livros ou vejo documentários que retratam relatos negros na história da humanidade. Frequentemente existe o mau e, do outro lado, a vítima. Nunca te aconteceu ver um documentário sobre alces, por exemplo, no qual ficas tão triste quando aparece um leão que come o alce ou a cria do alce? Eu já. Mas sei também que já vi documentários sobre a vida dos leões, e fico triste quando percebo que a caça tem estado fraca e fico contente quando finalmente o leão apanha um alce para se alimentar a si e aos filhos, após uma semana de jejum.
Este contraste faz-me pensar na diferença que faz à minha cabeça uma simples mudança de observado. Perante a mesma cena, um leão que caça um alce, a minha simpatia pende para o lado que estou a observar.
A partir deste exemplo gostaria de fazer uma analogia com as tais situações e histórias negras no passado das civilizações.
Um exemplo: Marquês de Pombal
- Para os estudiosos e simpatizantes das suas obras, o Marquês de Pombal foi um homem muito à frente no seu tempo, que fez obras notáveis;
- Mas na perspectiva popular, o despotismo com que exerceu o seu governo foi uma mancha negra numa página da história de Portugal;
Segundo exemplo: Salazar
- Como é possível que haja pessoas saudosas do tempo da ditadura do Salazar? Porque para eles os benefícios contíguos à liberdade de expressão e associação, não compensaram os problemas que advieram com a democracia.
Existem muitos outros exemplos que eu poderia citar, incontáveis, onde a nossa simpatia tenderia consoante o objecto analisado e o preconceito do analista. Isto é, um documentário sobre Salazar pode ser abonatório da sua obra, ou pelo contrário, endemoninhá-lo consoante seja o objectivo do jornalista.

Agora coloco uma questão muito pertinente:
Existe alguma diferença entre o Salazar e o Marquês de Pombal? Na minha opinião, poucas. Ambos afastaram opositores e detractores e abusaram do poder para perpetuar a governação e manipular o povo.
Mas existe uma pequeníssima diferença que, para mim, é suficiente para exaltar o Marquês de Pombal e condenar o Salazar: o contexto histórico.
O primeiro governou no século XVIII e o segundo em pleno século XX. A diferença seria ainda mais substancial se estivéssemos a falar de um regente do século XII ou anterior e outro do século XXI. O que quero dizer com isto é, o primeiro, à parte a sua genialidade, limitou-se a governar com um pouco mais de zelo mas sem fugir ao que era expectável numa governação monárquica. A eliminação sistemática dos opositores é uma lenga lenga repetitiva nas páginas das histórias de todas as nações.
Quando é que surge a viragem? Em pleno século XX, a consagração dos direitos humanos, o fim da escravatura, a exaltação da dignidade humana. Salazar governou, portanto, num contexto entre democracias, onde se começou a encarar o ser humano numa perspectiva mais digna e humanista, e cujos actos foram mais despropositados e, por conseguinte, condenáveis.

Posto isto, carece-me chamar a atenção para uma prática que vejo frequentemente, e cuja objectividade é inexistente ou, pelo menos, parcial:
Quando se misturam cenários de séculos passados com moralidade do século vinte, ou cenários de outras culturas com a moralidade do ocidente. Isto é muito grave, pois facilmente induz o leitor em erro.
Um senhor decide expropriar a terra de um fazendeiro (cenário muito hollywoodesco, eu sei) em proveito de um nobre devido ao direito de sucessão não ser pago. Aos olhos do século XXI, este acto é uma tremenda injustiça, mas para viveu naquela época este era o pão nosso de cada dia. Era comum os senhores fazerem isto pelos mais diversos motivos. E quem diz isto, diz todo o género de injustiças. O escárnio e o ostracismo dos que eram diferentes; a não aceitção e a perseguição da mudança, o medo do incompreendido. Ainda não existia a distinção entre o acto e a natureza do actor. Não era o acto de deveria ser condenado, era o próprio actor que era condenado. Não havia distinção entre roubo e ladrão.
Vou dar apenas mais um exemplo:
Quando estive em Moçambique fui confrontado com a corrupção visível dos polícias. Neste caso em concreto, dos polícias de transito. É normal que o polícia de transito tente extroquir sempre algum dinheiro aos condutores. Principalmente àqueles que visivelmente transgridem as regras e aos estrangeiros. A princípio fiquei chocado porque os meus valores condenam aquele tipo de actuação. Mas tudo ficou mais claro para mim, quando percebi que não era aquele ou aqueles polícias em particular que faziam aquilo, mas se tratava simplesmente de uma situação/oportunidade que aquela profissão proporciona e que o polícia administrativo que passa o dia a fechar envelopes anseia por lhe tomar o lugar quando surgir uma vaga, para fazer exactamente o mesmo.

Porquê "impertinências do contexto histórico"? Onde é que entraria o romance nas cruzadas, na inquisição ou nas perseguições religiosas, se fosse respeitado o contexto? Não entraria. Tratar-se-ia simplesmente de uma tese antropológica ou sociológica. Por isso, o contexto histórico ou cultural é impertinente quando se pretende tratar destes assuntos de forma a condenar a acção de uma das partes.
Por muito que me custe admitir a Inquisição e outros erros da Igreja Católica, devo ser capaz de relativizar a acção para o respectivo contexto e não trazê-lo à luz do meu mundo. Neste sentido, as acções inquisitórias quase se tornam obvias. Era assim que os homens que detinham o poder lidavam com os problemas. Não havia a dignidade humana. A liberdade é um conceito que ganha corpo apenas na revolução francesa. Isto é, um conceito 5 a 6 séculos posterior (refiro-me ao inicío de ambos. É obvio que a inquisição do séc XVII em Portugal, nada tem a ver com a Inquisição romana do séc XII, nem os frutos da revolução francesa foram imediatos). Onde é que está, por isso, a justiça na critica à Inquisição? Normalmente guardada numa gaveta, trancada e sem chave. O romance assim o exige.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Homossexualidade - um ensaio

Não há muito tempo dizia-se que a homossexualidade era um comportamento desviante, com quadro clínico próprio. Tanto quanto o suícidio, a pedofilia, o sadismo, etc...
Actualmente esse diagnóstico foi alterado, para uma simples preferência sexual, ao mesmo nível que um homem pode preferir loiras a ruivas.
Mas há uma coisa que eu não percebo. Se "já" não há qualquer patologia associada à homossexualidade, qual é o papel das hormonas masculinas na minha sexualidade? Não serão elas as responsáveis por perder o fôlego quando vejo uma mulher lindíssima, ou sentir desejo por vislumbrar a nudez de uma mulher e, ao mesmo tempo, ficar indiferente com os mesmos atributos num homem? Logo, não será a falta destas hormonas, ou a inactividade delas, uma patologia?
Ou serão estas minhas sensações e reacções apenas fruto do contexto sociológico? Admito que a repugnância que sinto ao ver dois homens aos beijos seja preconceito social. Mas ao ponto de me quererem fazer acreditar que não há nada de errado com um individuo se sente atraído por alguém do seu género, já me parece propaganda nazi.
Mais ainda se pensar que um acto sexual desta natureza é prejudicial à saúde, pelo menos no caso masculino. Julgo não estar enganado ao afirmar que o sexo anal é prejudicial quando praticado regularmente.
Gostava ainda de não me escudar na naturalidade para argumentar contra a homossexualidade, mas é incontornável. Quer se creia ou não em Deus, é indiscutível a complementaridade entre homem e mulher. De uma relação homossexual nenhum fruto pode ser esperado. É uma relação estéril. Primeiro porque é impossível gerar filhos, crianças, o maior bem da humanidade; segundo, (algo subjectivo e argumentativo, mas sobejamente empírico, parece-me) porque a aproximação emocional entre dois indivíduos do mesmo sexo é de uma substância diferente da de dois indivíduos de género diferente. Normalmente o que num é fortaleza noutro é fraqueza e vice-versa. Por isso, complementam-se. Dentro do mesmo género, a compreensão é a única vantagem intrínseca, pois embora partilhem as mesmas fortalezas, padecem das mesmas fraquezas mentais e físicas.

Posto isto, devo dizer que não sou contra, nem condeno os homossexuais. Mas tão simplesmente a homossexualidade. É o acto que repugna, não a natureza.

Agora sobre a legislação do casamento gay.
O que poderá levar então uma sociedade a legalizar e a atribuir direitos a uma união que aparentemente é prejudicial à saúde (pelo menos para os homens) e que causa aversão a uma parcela da população?
O que poderá ter mudado numa sociedade que durante séculos condenou e marginalizou a homossexualidade?
O que poderá ter levado um Estado a legislar controversamente em nome da discriminação, mas não conferindo qualquer privilégio ou benefício relevante?

Já ouvi várias vezes o argumento da igualdade. Tudo bem. Fiquem lá com a bicicleta. Já me canso de rebater esse argumento.
A minha resposta é simples. Tratou-se apenas de uma operação que maquilhagem, sob pressão de um loby, que serve de porta de entrada com vista a um objectivo maior.
Se a luta era pela igualdade, não vos parece que a discriminação passou a ser ainda mais acentuada, ficando plasmada na legislação?
Qual discriminação? Ora, o casamento em si nada trouxe de relevante à comunidade gay, além de poder ficar com um carimbo no papel. Se eu fosse um puritano gay, ficaria revoltado por me estarem a atirar areia para o olhos. Pois permitem-me ir a uma conservatória assinar uns papéis, mas depois não me permitem adoptar ou ter filhos por via de inseminação artificial ou outras moralmente ainda mais duvidosas. Isso sim, seria igualdade.
O Estado ao não permitir a filiação a um casal homossexual está, por um lado, a espelhar a vontade da sociedade que não admite uma criança criada por dois pais ou duas mães - existe o reconhecimento de um trauma que afecta as crianças criadas sem mãe ou sem uma figura paternal. Em última análise, esta vontade social pode também reflectir uma previsão em que a criança adoptada será alvo da crueldade dos seus colegas, que é própria nas crianças e forma natural de reagir ao que é diferente - e; por outro lado, está a admitir a diferença, a não naturalidade, do casamento gay. Ou dito de outra forma, embora admita o argumento da igualdade, ainda não pode admitir o argumento da liberdade individual pelo facto que poder estar a interferir com a liberdade da criança.

Então porque é que esta lei tão estranha existe? Porque o loby gay sabe perfeitamente que bastam mais uns anos para infundir na consciências dos jovens a imagem de naturalidade na adopção por um casal gay, da inevitabilidade do progresso social e da desigualdade e injustiça existente por tal ainda não ser possível. O bem que faria à quantidade de crianças que estão por adoptar. Passados esses anos, bastará aguardar por um novo governo de esquerda para ressuscitar o debate e voilá. Logo, esta foi uma grande vitória.
Não é difícil deixar-se enganar por este último argumento. Mas eu desafio cada um que acha que há muitas crianças à espera de serem adoptadas, como se vê nos filmes, a inteirar-se sobre a realidade da adopção em Portugal. Garanto que ficaria com uma imagem muito diferente. A lista de espera de casais à espera para adoptar é enorme e antiga. Conheço um casal que, pelas minhas contas, já deve estar há mais de 4 ou 5 anos à espera. E de todas as crianças que estão nos orfanatos e casas de acolhimento, apenas uma percentagem pode ser adoptada, pois muitas ainda têm pais vivos, que por se manterem por perto, vão reclamando o direito de paternidade, embora sem o assumirem.

Adiante,
se o debate social é previsível, devo confessar que fiquei surpreendido pela posição de algumas pessoas católicas.
Desde que os gays não venham reivindicar um casamento religioso, é-lhes indiferente que o façam no civil. Ressalvando apenas a condenação da adopção.
Verificar esta atitude é doloroso para mim. Porque reflecte aquela máxima, completamente contra a mensagem cristã: "deixem-me cá sossegado no meu cantinho. Desde que não me venham importunar está tudo bem." Como é que eu posso defender uma coisa dentro da minha comunidade e depois defender outra lá para fora? Ao defender esta posição, estão a admitir que deve existir uma comunidade católico-religiosa e outra comunidade ateio-civil. Isto é, que devem agir de uma forma quando estão em actividades ou grupo católicos, e agir de outra forma quando não estão. Ou pior, que não se devem responsabilizar pelo que não lhes diz respeito. Por esta via de pensamento, a caridade está por um fio...

Foram muitos pontos de vista. Talvez não brilhantemente expostos, mas acho que reuni todos os meus argumentos sobre esta temática.

Em jeito de conclusão, deixo uma questão no ar, tão despropositada quanto inútil:
Em teoria, admitindo a liberdade individual como bem intocável, como é que um estado que aprova uma lei deste género, bem como o aborto, condena a poligamia? Na minha opinião, os muçulmanos teriam toda legitimidade para exigir a abolição da monogamia. Não encontro quaisquer argumentos sociais contra. Desde que exista mútuo consentimento de todos os envolvidos e sejam maiores de idade... não achas?

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Aborto

Agora que já não existem penalizações para quem recorre a aborto, estando longe do lume que se gerou com esta questão, gostaria de tecer alguns comentários.

Cada vez mais me parece que a discussão à volta do aborto foi, é e será uma discussão virtual.
Eu sei que nem toda a gente consegue ser tão radical como eu, mas nesta discussão existe um ponto de partida, do qual não abdico.
A partir de quando é que o feto se transforma numa vida humana?
A partir de quando é que o feto passa a ter direitos distintos do da mãe?
Querem debater, então debatam estas questões.
Para mim é claro que o feto é uma vida humana a partir da concepção. Tanto quanto um bebé que acaba de nascer.
Existe uma questão debelatória de consciência: o feto nada sente até à 24 semanas de gestação por não ter sistema nervoso. Para os apoiantes do aborto, este parece ser o prazo moralmente aceite. Penso que isto quer dizer que passa de feto a ser humano quando ganha a capacidade se sentir. É um argumento válido. Embora ridículo. Qualquer médico do mundo consegue anestesiar qualquer ser vivo, de forma a não sentir dor. Aumentar o prazo moral das 24 semanas para as 32 ou 36 por este motivo seria perfeitamente válido. O problema é que com este tempo de gestação, o feto já se parece com um bebé. Já está totalmente formado. E aqui já não existe argumento que aplaque a consciência. Portanto, de todos os males o menor: para ter a certeza que o feto ainda não sente e ainda não se parece totalmente com um bebé, decidimos 10 semanas de gestação.
Mas não é por estas considerações que eu vejo o debate sobre o aborto como um debate virtual.
O grande argumento a favor do aborto creio ser a questão da felicidade da criança, das condições de vida que aquele bebé irá ter. Isto decorre de situações como pobreza, pais em idade juvenil, pais viciados ou com problemas e outras situações derivadas.
Façam um inquérito a jovens e adultos que nasceram e cresceram nestes contextos familiares e perguntem-lhes quem preferia não ter nascido. Quem preferia nem sequer ter tido a oportunidade. Julgo que uma pequena minoria preferia ter sido um aborto. À grande maioria, simplesmente ter-lhes-ia sido negada a possibilidade.
Esta é que é a virtualidade: as crianças que sofrem, podem não advir destes contextos, nem todas as crianças destes contextos sofrem. É estarmos a pôr uma chancela de infelicidade naqueles bebés e nem sequer lhes dar a oportunidade.
É claro que eu não suporto ver uma criança sofrer, mas quem sou eu para decidir à priori se aquela criança vai ou não ser feliz?

Outro grande argumento é a precariedade com que as mulheres acabavam por fazer abortos, aquelas que não tinham dinheiro para ir fazê-los a clinicas em Espanha.
Agora façam outro inquérito: quais os perfis das mães que vão a clínicas abortar? Que percentagem se insere no perfil demagógico? Suponho que uma minoria.

O único argumento que considero válido é aquele em que a mãe achando que o feto é uma parte de si e não um ser independente, tem o direito de fazer com ele o que quiser, até que o resto da sociedade advogue direitos ao bebé, e se responsabilize por ele, mesmo que seja contra a mãe, que segundo a lei é a partir das 00h00 das 10 semanas. Até lá, só tem que se agarrar aos tampões de consciência que mencionei no princípio.

Em resumo: ou pegamos num argumento ridículo e arbitrário ou virtualizamos a questão. Assim falamos nós de aborto, aliás, interrupção voluntária da gravidez.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

A Igreja está pelas horas da morte

Acreditando nos alvitres do meu querido colega de trabalho, eu sou um enganado e a Igreja vai acabar por causa de pessoas como eu.
Passo a explicar melhor, segundo ele, eu engulo tudo aquilo que a Igreja diz sem pensar. E é por minha causa e de pessoas como eu que só dizem sim sim, e não conseguem ser críticos que a Igreja vai acabar. Diz ainda que todos deviam ser como ele que põe em causa o que lhe dizem, a menos que existam provas científicas.

E qual foi a última prova de que a Igreja está errada e está a esconder a verdade às pessoas que ele encontrou? Um livro que defende a tese do casamento de Jesus com Maria Madalena e que terão deixado descendência. É científico e de tal modo verdadeiro que até tem citações dos evangelhos que comprovam os argumentos.
Portanto, a Igreja sabe isto, e tem estes documentos escondidos das pessoas nos arquivos do Vaticano.

É claro que eu lhe disse imediatamente que se ele queria mais factos destes deveria ler o livro "O sangue de Cristo e o Santo Graal", uma obra de investigação publicada na década de 80, que se não estou em erro, foi a primeira a conjecturar esta teoria. Aí é que qualquer réstia de dúvida que a Igreja é uma instituição cheia de segredos podres, desaparecia num ápice.

Qualquer teólogo conseguiria desmascarar estas questões com meia dúzia de palavras, normalmente eu também consigo, mas por uma razão que não consigo perceber, é-me impossível transmití-lo ao meu colega. Primeiro porque segundo ele, não é por eu estar metido dentro da Igreja que sei mais do que ele, até pelo contrário, pois como já referi, isso embrotece-me os sentidos.
E mesmo que eu lhe prove que é por A + B que eu acredito em algo, com sorte obtenho como resposta: "isso não é bem assim".
Já lhe tentei explicar algumas vezes os critérios que os pais da Igreja utilizaram para escolher os evangelhos canónicos, mas surge quase sempre a questão dos outros evangelhos que a Igreja não aceita e que deveria aceitar já que são contemporâneos (mais século menos século) e que não aceita porque não lhe convém.
Enfim, é complicado, mas ao mesmo tempo estimulante. Não troco uma discussão nossa por nada. Num momento estamos aos berros, noutro estamos a gargalhar.

Mas levanto estes factos que se passaram comigo para provar uma tese: a igreja está de facto pelas horas da morte.
Da parte que me toca, espero que ela morra e fique bem enterrada.
O QUÊ? EXCUMUNHÃO!!!!! COMO PODES DIZER ISSO?
Bem, posso dizer e digo sem medo. Mas antes da explicação, um pouco de história:

Desde que Constantino adoptou o cristianismo como religião oficial romana, que esta nova religião teve um crescimento exponencial.
A Igreja foi fundada para permanecer no tempo, para guardar e anunciar a Boa-Nova. E a mal ou a bem, tem-no feito.
Existiram momentos conturbados nesta expansão católica. Durante muito tempo a religião foi imposta, houve perseguições, existiram abusos.
À luz dos nossos dias, estas acções são brutalmente repugnantes, mas à luz dos dias em que os factos se deram, era assim que as pessoas viviam. Era assim que as pessoas governavam.
Este legado, transformou uma religião atractiva, numa religião tradicionalista, mística, monótona e monocórdica. Sucederam-se cisões no cristianismo, fruto do misticismo e do ostracismo a que a elite da igreja votou as populações. No fundo, creio que a igreja teve durante muito tempo medo da deturpação da doutrina. Com tantos milhões de fiéis, a heresia espreitava a cada esquina que tentasse açambarcar a Palavra para si e à sua maneira. Além disso, todas ânsias e dúvidas encontravam resposta no misticismo criado. Era a Igreja possível.
Mais recentemente no Ocidente, a ciência tomou a supremacia sobre a religião, a politica e a governação sobrepuseram-se à religião, relegando-a para a mera escolha pessoal, livre e arbitrária. De repente (olhando cronologicamente, claro), a Igreja foi recauchutada para longe da ribalta, dos meandros do poder, acusada de milhares de perfídias presentes e passadas, apelidada de retrógrada, condenada à extinção.
Tudo isto visto de fora.
Até visto por dentro as coisas não parecem famosas.
- os pais querem baptizar os filhos e os padres só arranjam entraves, exigem padrinhos xpto, uma complicação!; Não admira que
- as assembleias estejam a ficar cada vez mais vazias, cada vez há menos pessoas a frequentarem a igreja;
- uma pessoa vai à missa só dá vontade de dormir. Ninguém percebe o que se lá passa;
- uma pessoa quer ter uma vida normal, mas não se pode usar preservativos nem pílulas;
- cada vez há menos padres e não os deixam casar;
- porque é que a igreja não evolui?

De facto, parece-me que a igreja está pelas horas da morte, não te parece?
E agora a explicação.
Desejo ardentemente que este conceito de igreja morra, deixe de existir. Que a forma com que o meu colega vê a Igreja desapareça. Há tanto preconceito contra a Igreja que não permite a quem está de fora olhar para o que verdadeiramente importa. Mesmo para quem olha por dentro, as coisas parecem deslocadas, fora do tempo.
É tudo isto que eu desejo que desapareça. Esta ideia de Igreja que simplesmente não é e, provavelmente nunca foi.
A Igreja que eu conheço é enérgica, viva, renovadora, atractiva, mobilizadora, caridosa e acolhedora. Só fala de Verdade e Amor e não se impõe.
Felizmente, o contexto actual laico é propício a voltarmos às origens, onde as comunidades cristãs eram pólos de atracção. A tradição associada às multidões e ao conformismo, resulta numa Igreja letárgica. Chega de pessoas que vão à igreja porque é tradição, vão à missa porque foi assim que foram ensinadas. Chega de pessoas que só sabem olhar aos defeitos do passado. Chega de intolerância para a mensagem católica: não é uma proposta para todos, é para alguns, e mesmo para esses é desafiante e difícil de cumprir. Chega de opinar sobre o que não se conhece e porventura não se percebe.
A Igreja vive por Cristo, e tanto quanto me diz respeito, só quem se sente atraído por Cristo conhece a verdadeira Igreja. Só quem se deixa apaixonar por Ele, é que conhece a verdadeira razão de viver. E os que vivem deste modo, vivem tão intensamente, que são faróis brilhantes nesta sociedade, e arrastam consigo muitos outros.
É por isso que a Igreja nunca morrerá. Porque Cristo continua tão apaixonante hoje como no princípio, quiçá talvez mais. Basta que se limpe os óculos do preconceito, que por trás logo se vislumbra esta Igreja. Tudo mais, pode morrer que não faz cá falta nenhuma.



quarta-feira, 30 de junho de 2010

E se afinal Deus não existe?

Se esta pergunta não foi colocada pelo menos um milhão de vezes por cada crente, andará seguramente lá perto.
Do mesmo modo, tenho a certeza que cada ateu já se perguntou pelo menos 2 milhões de vezes ao longo da sua vida: e se afinal Deus existe?

Vou contar-te um segredo.
À luz da ciência moderna, o que te parece mais razoável, acreditar ou negar Deus?
Poderás por ventura pensar que face às grandes descobertas científicas, ao modo como o homem se conseguiu tornar o centro da suas próprias vidas e ao modo como consegue responder às suas dúvidas (pelo menos a grande parte delas) sem recorrer a milgres e a divindades, que será mais óbvio negar Deus do que acreditar.
Eis o segredo: é preciso muito mais fé para negar Deus do que para acreditar.
Repara, primeiro é preciso ignorar um aspecto intriseco ao homem, a necessidade de transcendência. A religião organizada é relativamente recente atentendo à idade da humanidade. Mas os relatos empíricos mostram-nos que sempre onde existiu um homem, existiu um culto à divindade, ao transcendente.
Segundo, é preciso ignorar a origem. Dito de outra forma é preciso ter uma fé irracional na ciência. Isto é, de acordo com o paradigma científico actual, sabe-se que o vácuo nada gera. A lei de Laviosier mantém-se actual: nada se ganha, nada se perde, tudo se transforma. Do nada não pode surgir algo. Logo, para negar Deus é preciso negar a própria ciência, Pois, de onde veio toda a matéria? O que deu inicio ao bigbang? Para negar Deus seria necessário provar-se a autogenese, acreditar na autogenese, e para acreditar na autogenese é preciso negar a ciência. Logo, deduz-se que se não existe autogenese, é imperativo que exista um criador. E é obvio que não é possível acreditar num criador de matéria, sem admitir a sua transcendência, poder e inteligência.
Terceiro, é preciso ignorar as milhões de histórias pessoais de indivíduos que conhecem e conheceram Deus, já para não falar de actos milagrosos. Acreditar que existem e existiram biliões e biliões de pessoas que vivem e viveram enganadas (digo viveram enganadas, e não que tiveram conhecimentos errados, pois até hoje o nosso conhecimento é limitado. Qualquer historiador pode afirmar com toda a certeza que o nosso conhecimento se tornará em breve obsoleto). É preciso ignorar o poder da oração.

Portanto, reforço, é preciso mais fé para negar a existência de Deus do que para acreditar.
Mas este discurso é absolutamente infértil. Não passa de conversa, conversa intelectual e pouco acrescenta à minha vida. O mundo está cheio de pessoas que se renderam a esta evidência. Existe um criador, mas não acreditam na religião.
Não posso condená-los. Talvez apenas recriminá-los por nem sequer tentarem. Talvez apenas recriminar-me por não lhes conseguir mostrar como a minha vida é diferente, com muuuuuuito sabor, por ter fé.

Mas adiante. Passando as questões científicas.
E se Deus não existisse?
Para muitos a questão primordial seria não existir condenação eterna, não existir inferno. Se não há repercussões dos meus actos, desde que me vá conseguindo safar por cá...
Para outros seria não existir recompensa, não existir paraíso. Para quê esforçar-me para ser uma boa pessoa se depois não terei a vida eterna?
Para alguns seria não ter aquele amigo sempre presente. E quem é que ficará sempre comigo quando estou em baixo?
Para estes seria um alívio. Acabou-se o radicalismo, a crendice, a estupidez, a carneirada.
Para aqueles seria indiferente. Nunca fui muito ligado a essas coisas.
Para aqueloutros seria não existir respostas para as questões existenciais: quem sou eu, o que faço aqui, para onde vou.

E para mim?
Se Deus não existisse seria o fim do mundo, o inferno, o desespero.
Como é que posso ser tão trágico?
É simples.
Tenta imaginar um mundo sem amor.

É assim que seria um mundo sem Deus.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

A relatividade das coisas

Já alguma vez paraste para pensar nalguma das teorias da relatividade do Einstein?
Eu já! E o mais engraçado é que para mim, a relatividade não é um teoria, mas sim um facto. A teoria está na forma como Einstein a pensou. Isto é: as teorias pretendem quantificar algo que para nós é, na sua maioria, visível a olho nu. Mas para essa quantificação ele teve que tomar como alicerces, hipóteses à data impossíveis de verificar, embora verosímeis, por exemplo, a supremacia da velocidade da luz no vácuo. Daí apenas ser uma teoria.
Então porque digo que a relatividade é um facto? Porque não estou a falar da teoria mas apenas do conceito. A relatividade é subjectiva e, acima disso, dialéctica. É tão verdadeira e real, tão entranhada no nosso espírito, que muitas vezes me esqueço dela, principalmente contando com quanto me poderia ser útil.

Estava no meu 7º ou 8º ano da escola quando descobri a relatividade. Pensava em voz alta com uns amigos: ''já viram como estes prédios são grandes? Ao pé deles somos, de facto, pequenos. Mas se virmos bem, deve ser exactamente o que uma formiga pensa de nós...''
Na altura senti um frémito de como quem descobriu algum coisa. Não é que me tenha servido de alguma coisa, mas fiquei contente por dar uso à razão. É engraçado raciocinar sobre um assunto que nunca pensámos e chegarmos a algumas conclusões que não conhecíamos.
Mas estou para aqui a divagar. Aquilo que me importa falar sobre a relatividade é como ela me pode tornar uma pessoa melhor.

Primeiro, alguns esclarecimentos.
A relatividade é subjectiva. Como depende da observação, ou em última instância, da imaginação, cada cenário é único para quem observa. Com os meus olhos, a minha educação e os meus preconceitos, relativizo (ou não, que ainda é pior) as coisas à minha maneira.
A relatividade é dialética. Só existe relatividade quando eu consigo discernir ou simplesmente divagar sobre o assunto. Ou seja, quando da observação resulta um conjunto de deduções ou induções para chegar a uma conclusão. Se da observação resulta uma conclusão, estamos na àrea do absolutismo, do preconceito.
Finalmente, tudo será relativo? Já tive algumas conversas de ocasião sobre este assunto. Há quem diga que sim, que nada há neste universo que não seja relativo, pois tudo pode ser relativizado à luz de algo.
Para mim este pensamento é estranho. pois se não existem valores ou ideiais absolutos, comparamos o quê com quê? Claro que na relativização temos que encontrar âncoras a partir das quais comparamos e relativizamos o que pretendemos (como nós os economistas gostamos de chamar et ceteris paribus - e tudo o resto constante). Mas se em momento algum existe um ponto de partida que seja imutável, como posso garantir que a âncora é válida. Aquela âncora já pode ser fruto de um preconceito tal, que nem sequer é aceite pacificamente como âncora por todos.
Enfim, quase tudo pode ser relativizado, mas sem a certeza de algo absoluto na minha vida, corro o risco de não saber para onde devo caminhar.

Referi atrás que acho que a relativização pode e deve servir para me tornar um pessoa melhor, mais conscienciosa do que me rodeia. Mas não basta relativizar, há que fazê-lo (perdoa-me mas tenho que usar dois palavrões) de forma holística e fazendo uso da hermenêutica diatópica. Traduzindo por míudos quer dizer, primeiro, que não devemos tirar conclusões somente com base numa acção, mas sim atender ao todo que conhecemos e ao que podemos desconhecer daquela pessoa; segundo, não olhar para aquela acção somente com os nossos olhos, mas fazer um esforço para conseguir ver com os olhos da pessoa que a realizou.
Por exemplo:
- Facto observado: A pessoa X a bater com um pau na pessoa Y.
Uma conclusão imediata após a observação, levar-me-ia a dizer que a pessoa X quer mal à pessoa Y. Mas se tiver o cuidado de relativizar a acção, surgem uma infinidade de conclusões possíveis:
- O Y é um bandido. O Y magoou o X e este está a defender-se;
- São grandes amigos. Não se trata de um pau, mas de uma brincadeira de carnaval;
- Acidente. O X não viu o Y e acertou-lhe sem querer.
Mas mesmo dentro da conclusão mais verosímil, que o X está a reagir a algo pelo que o Y é responsável, existem muitas possibilidades:
- O X está a reagir mas porque foi induzido em erro, o Y não fez nada;
- O Y portou-se mal e o X está a dar-lhe uma lição, não é um pau é uma régua de madeira...
- O X foi durante muito tempo manietado pelo Y e agora, finalmente, conseguiu libertar-se;
- O Y fez de facto uma maldade, mas foi sem querer, está arrependido e nem sequer se defende;
- ...
Acho que já percebeste onde quero chegar. No fundo estou apenas a apontar razões para evitar um grande flagelo da nossa sociedade: a crítica; o apontar o dedo, o preconceito.
Quem sou eu para criticar algo que desconheço?

Termino com um alerta. Estou convencido que a relatividade pura é um mal da nossa sociedade. Mas se for temperada com valores absolutos como o Bem, a Beleza, o Amor e a Paz, a partir dos quais relativizamos o resto, então é uma ferramenta fundamental para me tornar uma pessoa melhor.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Sobre o amor

Muito tenho falado aqui sobre o amor.
Talvez seja altura explicar o que ele é. Pelo menos para mim, e na forma como o tenho empregue neste blogue.

Amar é importar-me com alguém um pouco mais que me importo comigo.
É preocupar-me com a felicidade de alguém um pouco mais que me preocupo com a minha.
É desejar melhor para alguém que quero para mim.

Mas amar é, acima de tudo, agir, ser, fazer, conseguir que tudo isso aconteça, independentemente das consequências.

A Excepção

Não deves encarar a excepção que referi no último post, como uma excepção na total acepção do termo. Embora, na teoria divirja do "amar porque sim".
Estou a falar do namoro e, em sequência, do casamento.
A atitude deve ser a mesma que referi anteriormente, agir sem querer nada em troca, sem esperar retorno, desejar e fazer tudo para que a outra pessoa seja feliz.
Mas na teoria, não deves ter receio de esperar que o outro faça o mesmo. Pois se não o fizer, espero que a paixão não te turve os olhos durante demasiado tempo para saberes que te vais magoar. Por isso, o namoro serve para experimentar se um casal está em sintonia neste aspecto, se estão a caminhar lado a lado, ou se procuram ir de encontro um ao outro e vivem às turras, ou se divergem no caminho e se separam.
Mas esta excepção é mais que necessária: é fundamental. O que à primeira vista pode parecer uma falha na demagogia - só desejo que sejas feliz, desde que desejes o mesmo para mim - é na realidade o mais importante de uma relação e que é demasiadas vezes ignorada.
Senão vê por mim: eu espero sempre o melhor de mim e sou muito exigente nesta matéria do amor. Espero sempre de mim um amor incondicional. Espero que a minha coragem não falhe, que a minha humildade permaneça... Será racional não esperar o mesmo da outra parte de mim?
Se eu e o outro somos um, então temos que encarar a relação do mesmo modo. Devo desejar ser amado da mesma forma que eu amo: sem pensar em mim.
Passe o paradoxo!

sábado, 1 de maio de 2010

Amo porque sim - uma explicação

Quem é que normalmente utiliza a expressão "porque sim"?
As crianças, claro! Eu próprio a utilizei vezes sem conta na minha infância. Demonstra precisamente que nem todas as acções carecem de explicação.
É este o espírito que considero que deve comandar todos os gestos de amor. Não preciso de uma causa ou incentivo. Não preciso esperar nada em troca para amar alguém (salvo uma única excepção - vê o próximo post). Mas esta frase compreende mais que isto. Indo ao encontro do verdadeiro espírito de caridade, reflecte sobretudo o carácter imperativo do amor: tenho que amar. Porque tem de ser, mesmo que eu não queira, me apeteça ou custe. Ai de mim se não amar!

Se não preciso de um motivo ou momento, então, amo porque sim!

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Sobre a perfeição

É normal dizer-se que o Homem é imperfeito.

Eu gostava de partilhar esta opinião para poder, com ela, justificar todos os males do mundo, (não é culpa minha, Deus é que me criou imperfeito!) mas não consigo. Pois se acreditasse nela, estaria a contradizer imediatamente o primeiro capítulo dos Génesis que relata que após ter criado o homem e a mulher, Deus viu que tudo era muito bom e então descansou. Mas não ficou por aí, não só nos criou perfeitos, tal como toda a Natureza, como também nos criou especiais: à Sua imagem e semelhança.

Neste parágrafo saltam-me à vista pelo menos 3 assuntos interessantíssimos, cada um deles merecedor de especial atenção. A saber:

- Deus descansou? Caramba, afinal Deus também se cansa!

- Somos à imagem e semelhança de Deus.

- e, claro, “Deus viu que tudo era muito bom” - que é precisamente o objecto desta reflexão.

É possível admitir que Deus tenha criado algo imperfeito? Não. Ponto final. Ele que é perfeito simplesmente não pode criar nada imperfeito. E para não haver dúvidas, diz ainda, que somos à Sua imagem e semelhança. Como podermos afinal ser imperfeitos?

E tu estás a pensar: “Ricardo, quer então dizer que o mundo em que vivemos é perfeito? Mas e todas as guerras, todas as maldades, todas as mortes? E todo o sofrimento? Como é que isso pode ser perfeito?”

Oh como eu te percebo! Quantas vezes já me fizeram essa mesma pergunta. E a resposta é grosseiramente simples: porque não estás a ver com os olhos de Deus.

E tu certamente replicarás: “Então onde é que Deus vê a perfeição numa criança que morre de fome, por exemplo?”

Espera, eu sei que não respondi à tua pergunta de forma a perceberes. Mas não é por não perceberes uma coisa que me vou impedir de ta dizer. Prefiro depois explicar-te.

Julgo que deve haver uma associação inconsciente entre perfeição e felicidade e entre dor e imperfeição. Mas que são mutuamente exclusivos. Isto é, se existe dor, não pode existir perfeição, logo, também não pode existir felicidade.

Se é assim que tu pensas, é lógico que não consegues ver a perfeição que existe no mundo e, sobretudo, no homem. Mas não é assim que as coisas verdadeiramente são.

E tu estás a perguntar-te:

- “Mas tu consegues ver a perfeição no homem?”

- Consigo!

- “Como humanidade ou individualmente?”

- Em ambos

- “Então também te julgas perfeito?”

- Claro! O que não sou é santo, porque sou pecador.

- “Espera, mas isso não faz sentido. És perfeito e pecador ao mesmo tempo?”

- Mais ou menos. Diria que o pecado é condição intrínseca à perfeição.

Se calhar, tu que és católico, certamente já te perguntaste porque teve Cristo que sofrer tanto para morrer, se o importante foi a ressurreição? Possivelmente não encontraste nenhuma resposta. Mas uma coisa te garanto, Ele teve mesmo que sofrer, e muito, antes de morrer. Não te vou explicar aqui o porquê, mas acredita que Ele teve que sofrer para que dali resultasse uma grande dádiva: a remissão de todos os pecados.

Eu sei que isto parece, à primeira vista, muito teológico, mas creio que aceitas que desse sofrimento veio algo infinitamente melhor, a vida eterna. Ou que, de uma forma generalizada, o homem tem a capacidade de se superar nos momentos de catástrofe e transformá-los em oportunidades.

Olhando de uma perspectiva inversa, penso que a grande maioria de nós admite que, mesmo aquelas pessoas que aparentam ter tudo, passam por desilusões, desânimos, angústia, stress. Acabam por ter maior dificuldade em inventar novos objectivos na vida por que lutar e, quando não conseguem, desistem de viver.

Isto só para dizer que, nem o sofrimento é o fim, nem o bem-estar é a meta. Não é por ver uma criança bem nutrida que vou acreditar que ela é feliz, nem por ver uma criança com algumas carências que vou julgá-la infeliz.

Postas todas estas considerações, passarei a explicar como percebi que afinal o mundo é perfeito.

Primeiro, é-me impossível discordar da bíblia. Logo, se a bíblia me ensina algo contrário aquilo que vejo, só posso concluir que o que vejo é limitado ou, na pior das hipóteses, que tenho as minhas ideias baralhadas e ao ver uma coisa boa julgo-a má e vice-versa.

Segundo, ao estudar a resposta do nosso planeta às alterações climáticas, finalmente compreendi o equilíbrio que existe na bioesfera (que é muito mais do que simplesmente saber que existe esse equilíbrio) Tudo foi criado para persistir num equilíbrio. Por exemplo, a terra encontrará maneira de se equilibrar se a temperatura da terra continuar a aumentar. Os calotes polares derreterão, as correntes marítimas serão alteradas, o nível das águas subirá e provocará catástrofes atrás de catástrofes até eliminar toda a fonte de poluição. Como se a terra se sacudisse até que paremos de a magoar. Outro exemplo, que me fez pensar foi o surgimento de novas doenças. É natural que todos os seres vivos morram ocasionalmente de doenças ou outras causas ambientais. Conseguindo o homem debelar grande parte de algumas enfermidades por via da medicina, a análise empírica mostra-nos que a natureza encontra formas de nos manietar com novas doenças.

Estes exemplos são talvez estranhos, mas foram eles que me fizeram pensar que tudo existe está de tal forma entrelaçada e equilibrada, de facto, de modo perfeito.

No que respeita ao homem, a perfeição é um pouco mais complexa, mas tem que ser entendida de forma dinâmica. Isto é, não existe uma perfeição estática. Se entendermos que o pecado é o afastamento de Deus, e que Deus nos criou livres de nos afastarmos ou não Dele, fica claro que o plano de Deus não foi criar um conjunto de seres que nunca Lhe desobedecessem. Antes pelo contrário, foi criar um ser de tal forma livre, cujo caminho pudesse decidir por si próprio. Portanto, se o afastamento – o pecado – e tudo o que dele resulta (que é o sofrimento), foi previsto a quando da nossa criação, é claro que mesmo sofrendo, enquanto mantivermos a capacidade de nos levantarmos das quedas, ou sobretudo, de darmos a mão a quem caiu, permaneceremos perfeitos aos olhos de Deus.

A grande questão, quanto a mim, não é saber se somos perfeitos ou não. Mas se somos santos. É tirar o enfoque daquilo que é a nossa natureza e colocá-lo naquilo que são as nossas decisões e atitudes. Ou seja, se utilizamos a nossa perfeição para sê-lo verdadeiramente.