quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Santíssima confusão!

Se há coisa que faz muita confusão na cabeça de qualquer cristão é o mistério da Santíssima Trindade.

Este mistério consiste na crença de um único Deus que são três pessoas distintas.

Há um ponto de partida que não deverá ser ignorada: o mistério continuará um mistério não importa quão brilhante seja a nossa mente. Todavia a meditação sobre este mistério é fonte de grande riqueza espiritual. Na minha opinião, uma certa dose de encantamento pelo mesmo, trará grandes benefícios à fé de cada crente.

Mas existe uma confusão generalizada sobre a natureza da santíssima trindade e acabo por ouvir tanto comparações muito estranhas e duvidosas, como outras muito queridas e inócuas: desde um shampô 3 em 1 a três velas acesas no qual as chamas se tocam, formando uma única chama.
A forma como tentamos racionalizar este puzzle sem solução diz muito sobre a forma como cada um vê Deus. Embora não exista uma comparação perfeita, julgo que existem comparações que são melhores do que outras. Será então lógico da minha parte concluir que um melhor conhecimento de Deus revelará uma racionalização da Santíssima Trindade mais madura e fiel à verdade.

Primeiro, estamos a falar de três pessoas distintas:
- o Pai, que é todo-poderoso e criador;
- o Filho que é o Rei de toda a criação, que lhe foi dada pelo Pai, que encarnou na pessoa de Jesus, que é o caminho para o Pai;
- o Espírito Santo - É através dele que o Pai e o Filho se relacionam e actuam sobre a humanidade.

Segundo, estamos a falar de um único Deus.

Logo, Deus é três pessoas. Isto não é exactamente um mistério, pois um homem e uma mulher que gerem um filho, também são uma família e três pessoas distintas.
O mistério surge quando Jesus nos diz que quem vê o Filho está a ver o Pai, pois o Pai e o Filho são um só.
Esta constatação poderia remeter-nos para outro tipo de imagem: toda e qualquer pessoa que já tenha sido pai. Por exemplo, eu sou filho dos meus pais e, ao mesmo tempo, pai da minha filha. Portanto, quem me vê, vê-me como pai e como filho. Mas este tipo de raciocínio é brutalmente ingénuo, pois sou apenas uma pessoa apesar de agir de forma distinta com os meus pais do que com a minha filha. Para ser minimamente aproximado, eu teria de ter duas personalidade completamente distintas e permanentemente conscientes. E é um crime teológico desprover cada uma das três pessoas da santíssima trindade das suas "personalidades e características" próprias.
Faria-me mais sentido aquela tão habitual observação: "é tal e qual o pai dele". E nesse caso, remete-nos novamente para o conceito de família.

Outra coisa que S. Paulo nos diz sobre Deus é que Ele é amor.
Ora, uma característica do amor, é que este só existe na relação entre, pelo menos, duas pessoas. Assim, Deus jamais seria amor, se fosse apenas uma pessoa.
É importante não confundir auto-estima e auto-confiança com amor próprio. Aliás, amor próprio é um paradoxo e há poucas coisas no mundo mais contrárias ao amor que este chamado amor próprio. A definição de amor que mencionei no princípio deste blogue continua actual: amar é preocupar e cuidar do outro. Quanto mais amor canalizo para mim, quanto mais me tento agradar a mim mesmo, menos tempo e espaço sobra para amar outra pessoa. Portanto, o egoísmo mata, literalmente, o amor.
E que melhor exemplo de amor será possível encontrar que o amor dos pais pelos seus filhos?

Outra questão pertinente é a noção bíblica de termos sido feitos à imagem e semelhança de Deus. Já ouvi muitas coisas acerca disto, umas disparatadas, outras interessantes mas erradas. Desde a fisionomia à capacidade de raciocinar e de criar. Nada disto significa ser à imagem ou semelhança de Deus. Ser à imagem e semelhança de Deus significa apenas que somos seres que vivemos em relação. Isto é, fomos feitos para nos relacionarmos. E a forma mais perfeita de relacionamento é o amor. Não existe qualquer dúvida na minha cabeça que Deus nos criou para amarmos e sermos fecundos no amor. E ser fecundo significa além da geração de filhos, a geração de amor. Por outras palavras, somos a imagem de Deus sempre que amamos e que o nosso amor atrai e cativa outros para amarem de igual forma.

Posto isto, e sem querer dizer que esta comparação é a melhor, não consigo ver melhor representação da Santíssima Trindade que uma família. Não uma família qualquer, uma família perfeita.
Todavia não convém esquecer que, apesar dos argumentos que dei serem verdadeiros, esta conclusão é apenas uma opinião, já que por se tratar de um mistério, é inalcançável com a razão, tanto para uma criança como para o próprio Papa.

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