terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Mudança

Nunca te aconteceu pensares "no meu tempo é que era"?
Ou simplesmente "no meu tempo..."?
Penso que estas frases são utilizadas quando estamos perante alguém mais novo, e o tempo referido é o de quando tínhamos a sua idade. Ou no oposto, já as ouvimos muitas vezes de alguém mais velho. Mas se virmos o seu sentido literal, "no meu tempo é que era" é um paradoxo. O meu tempo é todo tempo enquanto vivo, desde que fui concebido até ao momento da minha morte.
Mas isto sou eu a divagar, onde quero chegar é que oiço esta expressão muitas vezes, como se o tempo actual tivesse lacunas que não existiam antes. De uma forma saudosista posso especular que crescer na década de 70 ou inícios de 80 foi muito mais fácil do que é hoje em dia. Nós podíamos andar na rua até tarde, se queríamos passar um bom bocado íamos ter com os amigos, a família reunia-se ao domingo à noite para ver a missão impossível, o Justiceiro ou o MacGyver. Tínhamos aulas só de manhã ou de tarde, todos sabíamos os nossos limites e todos levámos a nossa dose de palmadas e castigos quando os ultrapassámos.
Havia menos, muito menos focos de distracção (oferta de ocupações), e quanto mais recuarmos no tempo, mais isto é uma verdade, os jogos e brincadeiras eram em grupo, simples e muitas vezes inventados ou manufacturados. Não havia teorias sobre como educar os filhos, simplesmente educava-se.

Mas a verdade é que somos seres racionalmente complexos. Noutra circunstância seríamos os primeiros a argumentar as maravilhas dos tempos actuais. Pelo que vivi e pelo que vejo, todos somos criticos da mudança. Não há ninguém que seja a favor que tudo mude sempre, nem que nada nunca mude. A dificuldade está em encontrar alguém que consiga manter a imparcialidade. Eu consigo ver as comodidades que hoje usufruo como melhores do que as que tinha há 20 anos atrás, mas vejo com muita relutância a sofisticação e o leque de criminalidade actual ou a leveza com que se encara o núcleo familiar.

Um dos maiores problemas a que tenho assitido actualmente é a cultivação do ego e a desresponsabilização perante o outro. São as duas faces da mesma moeda. Quando penso em mim, não consigo pensar no outro. Coexistem e são cultivadas as noções de sucesso pessoal e de inevitabilidade social. Quero dizer que somos levados a crer que podemos ser tudo aquilo que quisermos, mas não existe forma de interferirmos com o que se passa à nossa volta, porque a liberdade individual é sagrada. E pelo que tenho visto, esta impotência perante a acção do outro chegou, inclusivé, aos pais perante os filhos. Já vi pais demitirem-se da tarefa de escolherem pelos seus filhos. E já vi jovens resignados com aquilo que o futuro possa trazer aos seus filhos, não aceitando ou acreditando no seu poder de os educar a serem ou fazerem algo. É para mim complicado ouvir um jovem dizer "mas como é que tu sabes que a tua filha irá para a Universidade? Não admites que ela possa escolher outro caminho?" Isto não anda longe de "Como é podes evitar que a tua filhe engravide na juventude ou se meta na droga?" Ilustra aquilo que referi atrás, demitem-se do seu papel pois estão impregnados de um sentimento de impotência social, a influência social (dos amigos, da televisão ou da escola) poderá ser demasiado forte para que as suas opiniões prevaleçam, ou no limite, têm medo de estar a limitar a liberdade do outro de fazer as suas escolhas.

A minha opinião sobre este tema é simples e descomplexada. A sociedade muda, é um facto. Empurra-nos e alicia-nos a todos para determinado rumo. A mudança traz oportunidades e desafios, benefícios e desajustamentos. Nem tudo é bom ou mau. Cabe-nos a tarefa de aproveitar os fluxos da mudança, mas fincar o pé àquilo que achamos que não deve mudar. E, la piéce de resitance, se algo não é bom para nós, possivelmente também não será para outros. Por isso, não basta lutar por nós. A isto chama-se responsabilização social ou, se estivermos a falar dos próprios filhos, educação.

Sem comentários:

Enviar um comentário