sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Jesus era Judeu, logo...

Não há muito tempo confrontaram-me com a seguinte questão: "Jesus era Judeu. Se ser Cristão significa viver à imagem Jesus e tentar viver como ele viveu, não deviam os Cristãos ser Judeus?" Obviamente a questão não me foi colocada assim tão direitinha, mas o objectivo da resposta era exactamente o mesmo.
Ao qual eu acrecentei: "não era só Judeu, era um excelente Judeu!"

Esta dedução é obviamente ingénua. E a minha primeira impressão transparece alguma dose de malícia da minha parte. Jesus não foi SEMPRE um judeu exemplar, pelo menos aos olhos dos Doutores da Lei da época. É sabido que ele era Rabi, pregava e discutia a Palavra nos templos. Isto diz-nos que ele começou por ser respeitado. Os evangelhos dizem-nos que já em criança ele mostrava grande sabedoria.
Mas sabemos igualmente que, no decorrer da vida pública, foi incomodando diversas forças e costumes estabelecidos. É sabido que Jesus colocava as pessoas acima das centenas de rituais e preceitos judaicos. A sua interpretação da Lei Mosaica (isto é, de Moisés) era única e holística (isto é, vista como um todo) e nunca aplicada às cegas. Jesus criticou fortemente todo o judeu hipócrita que vivia preocupado com as aparências. Fez coisas impensáveis àqueles Doutores da Lei, como privar com pecadores, não guardar os sábados e, acima de tudo, chamar-se Filho de Deus. Tirando esta última, que claramente poderia ser apontada por blasfémia, na minha opinião, nenhuma das outras poderia ser apontada como ofensiva à Lei Mosaica, já que sendo possível estabelecer uma hierarquia de preceitos, Jesus só quebrava preceitos para não incorrer em faltas mais severas à Lei. E nunca por discordar deles. É caso para dizer, porque estava preocupado com o que realmente era importante.

Agora, é preciso ser um grande desconhecedor da vida de Jesus para afirmar que para sermos à imagem dele, teríamos que ser Judeus.
Primeiro, se Cristo fosse um simples judeu, é claro que hoje não haveria cristianismo, a nossa principal referência seria Moisés e ainda teríamos o "olho por olho, dente por dente".
Segundo, acreditando que Cristo é o filho de Deus, fica difícil continuar a dar a mesma importância a Moisés, ou noutra pespectiva, dar menos importância à ressureição que à libertação do cativeiro no Egipto.
Terceiro, quando ouvimos o relato directo de Deus, em primeira mão, tudo quanto foi transmitido por intermediários, parece incompleto.

Portanto, Cristo não foi simplesmente um Judeu, nem tão pouco um Judeu como os outros. Aliás, só com Cristo a revelação divina ao homem ficou completa. Só aqui ficamos verdadeiramente a conhecer Deus, bem como, a saber na totalidade do Seu projecto para a humanidade.
Assim, ser cristão significa efectivamente viver a Lei Mosaica segundo os modos de Jesus, mas ainda assim, só depois dele a completar. E não há duvidas para ninguém sobre que caminho seguir perante uma lei incompleta e temporária e outra derradeira e definitiva.

Sem comentários:

Enviar um comentário