quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

um seguidor

Estou extasiado.
Já sabia que tinha pelo menos um ou dois leitores assíduos a este blogue. Mas agora já tenho um seguidor. Quando chegar aos 12 fundo a minha própria igreja :)
Ontem um amigo disse-me que gostou do meu blogue, mas que achava que eu tinha muito mais para dar, que me estava a prender demasiado com religiosismos.
Confesso que a minha ideia inicial era essa. Mas de uma forma um pouco inconsciente, fui utilizando o blogue para dar respostas a ofensas e sentimentos que fui vivendo ao longo desde ano, ou simplesmente fazer eco de conversas que tive. E como a Igreja Católica está muito na berra, surge sempre um assunto religioso para falar. Só com raras excepções escrevi algo a partir de nada.

Talvez possa fazê-lo de agora em diante. Não há dúvida que não tenho dificuldade em dissertar sobre temas que estão relacionados com a vida humana. Talvez me possas ajudar. Sugere temas sobre os quais gostavas que me debruçasse.

Finalmente: quando chegar aos 12 seguidores marco um jantar com direito a prelecção. A este ritmo será daqui a 11 anos ;) Com direito a repetição sempre que alcançar multiplos de 12. Reservo, no entanto, o direito de revogar esta decisão se, por uma quase impossibilidade, o número de seguidores crescer a um ritmo superior a 12 por mês.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Jesus era Judeu, logo...

Não há muito tempo confrontaram-me com a seguinte questão: "Jesus era Judeu. Se ser Cristão significa viver à imagem Jesus e tentar viver como ele viveu, não deviam os Cristãos ser Judeus?" Obviamente a questão não me foi colocada assim tão direitinha, mas o objectivo da resposta era exactamente o mesmo.
Ao qual eu acrecentei: "não era só Judeu, era um excelente Judeu!"

Esta dedução é obviamente ingénua. E a minha primeira impressão transparece alguma dose de malícia da minha parte. Jesus não foi SEMPRE um judeu exemplar, pelo menos aos olhos dos Doutores da Lei da época. É sabido que ele era Rabi, pregava e discutia a Palavra nos templos. Isto diz-nos que ele começou por ser respeitado. Os evangelhos dizem-nos que já em criança ele mostrava grande sabedoria.
Mas sabemos igualmente que, no decorrer da vida pública, foi incomodando diversas forças e costumes estabelecidos. É sabido que Jesus colocava as pessoas acima das centenas de rituais e preceitos judaicos. A sua interpretação da Lei Mosaica (isto é, de Moisés) era única e holística (isto é, vista como um todo) e nunca aplicada às cegas. Jesus criticou fortemente todo o judeu hipócrita que vivia preocupado com as aparências. Fez coisas impensáveis àqueles Doutores da Lei, como privar com pecadores, não guardar os sábados e, acima de tudo, chamar-se Filho de Deus. Tirando esta última, que claramente poderia ser apontada por blasfémia, na minha opinião, nenhuma das outras poderia ser apontada como ofensiva à Lei Mosaica, já que sendo possível estabelecer uma hierarquia de preceitos, Jesus só quebrava preceitos para não incorrer em faltas mais severas à Lei. E nunca por discordar deles. É caso para dizer, porque estava preocupado com o que realmente era importante.

Agora, é preciso ser um grande desconhecedor da vida de Jesus para afirmar que para sermos à imagem dele, teríamos que ser Judeus.
Primeiro, se Cristo fosse um simples judeu, é claro que hoje não haveria cristianismo, a nossa principal referência seria Moisés e ainda teríamos o "olho por olho, dente por dente".
Segundo, acreditando que Cristo é o filho de Deus, fica difícil continuar a dar a mesma importância a Moisés, ou noutra pespectiva, dar menos importância à ressureição que à libertação do cativeiro no Egipto.
Terceiro, quando ouvimos o relato directo de Deus, em primeira mão, tudo quanto foi transmitido por intermediários, parece incompleto.

Portanto, Cristo não foi simplesmente um Judeu, nem tão pouco um Judeu como os outros. Aliás, só com Cristo a revelação divina ao homem ficou completa. Só aqui ficamos verdadeiramente a conhecer Deus, bem como, a saber na totalidade do Seu projecto para a humanidade.
Assim, ser cristão significa efectivamente viver a Lei Mosaica segundo os modos de Jesus, mas ainda assim, só depois dele a completar. E não há duvidas para ninguém sobre que caminho seguir perante uma lei incompleta e temporária e outra derradeira e definitiva.

domingo, 9 de janeiro de 2011

IURD

Igreja Universal do Reino de Deus.

Hoje vinha no carro a fazer zapping no rádio quando passei por uma rádio da IURD, onde falava uma pessoa desta seita. Confesso a minha ignorância, não sei que nome dar aos indivíduos que fazem os sermões. E acredites ou não, pela primeira vez na minha vida fiquei curioso para saber o que lá diriam e deixei-me ficar a ouvir.

O meu primeiro pensamento, após 2 ou 3 minutos de escuta foi, surpreendemente, será que eles irão para o céu?
Sei por experiência própria que não é apropriado tirar conclusões precipitadas. Corro o risco de generalizar algo que foi pontual. O problema é que a mensagem era inequívoca, que se resumia em:
- porque é a fé das pessoas é fraca?
- porque não provaram a Deus (isto falado em brasileiro não se percebe se era no sentido de saborear ou de demonstrar valor)
- como é que se prova a Deus?
- através dos nossos actos
- quais actos? (e agora vejam a subtileza da coisa)
- de generosidade, das nossas ofertas na nossa vida, [...] aqui na celebração, ao entrar nas portas do templo.

E depois continuou a dar mais uma série de argumentos para estimular a generosidade no templo. E além disso, afirmou que Jesus seria a resposta para o sucesso familiar, profissional e financeiro.
Não tive tempo para ouvir mais nada, porque cheguei ao meu destino. Mas esta parte final pareceu-me tirada da publicidade do Professor Muamba - extraordinário vidente, curandeiro, astrólogo e cientista.
Julgo não estar enganado por pensar que o sucesso financeiro mencionado, se refere efectivamente a poder ter muito dinheiro.
Já há bastante tempo que deduzi que existe uma proliferação de seitas porque, tal como existem restaurantes de comida chinesa, italiana, mexicana, etc, há que oferecer espiritualmente às pessoas que elas querem ouvir. E como as pessoas têm gostos diferentes, há que providenciar inúmeras maneiras de deixar as pessoas felizes. A regra que funciona sempre bem é ter um Cristo, pau para toda a obra e benefício.
A igreja Católica é chata porque não oferece o que as pessoas desejam. Bem pelo contrário, até constuma pedir coisas que não queremos. Por isso, como condenar alguém que está disponível para dar às pessoas o que elas querem ouvir, por determinado preço?

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Igreja? Religião? Que mentecaptos!

Hoje saiu uma notícia a dar conta do processo de santificação do Papa João Paulo II. Um certo jornal italiano especulava que o Vaticano teria validado o segundo milagre atribuído a João Paulo II.
Não foi a notícia em si que me fez escrever este post, mas antes os comentários que foram escritos online.
Exemplos:
- "Mas em pleno século XXI ainda há gente que acredita nesta treta de milagres? Só os beatos e fundamentalistas que não pensam e se deixam manipular por ideias arcaicas ...Usem da razão meus Senhores !!!"
- "As pessoas esquecem-se rápidamente dos milhões de pessoas que foram mortas em nome da Santa Inquisição! Esquecem-se dos milhares de nativos que foram mortos em nome da Cristianização! Acham que Deus permitiria isso? Esquecem-se das ligações secretas a governos tiranos, esquecem-se dos casos de pedofilia, esquecem-se dos tempos anti-ciência! Enfim..."
- ""A cura da religiosa francesa Marie Simon-Pierre, que padecia de Parkinson, tal como João Paulo II, foi considerada milagrosa, referiram".ENTÃO JOÃO PAULO II TINHA A MESMA DOENÇA, O PARKINSON, QUE A RELIGIOSA QUE CUROU E NÃO SE CONSEGUIU CURAR A SI MESMO COMO O FEZ À RELIGIOSA? ALGO AQUI NÃO BATE CERTO"

Temos aqui três tipos de pessoas: a primeira, um ateu puro e duro; a segunda, alguém que acredita em Deus mas tem uma revolta contra a Igreja Católica e; a terceira, a minha preferida, um amigo dos soldados que escarneciam de Jesus por altura da paixão.

O meu primeiro pensamento vai para a quantidade de pessoas que se revolta com estas coisas. Coisas que não lhes dizem respeito e que tão pouco compreendem, inspiram, por um lado, revolta e angustia, e por outro, sentimento de superioridade.
Por um motivo que não tenho a certeza de compreender, a Igreja, a política e o futebol têm a capacidade de exaltar espíritos.
Este pensamento entristece-me por um motivo. É sabido que alguém que profere palavras revoltosas ou iradas está revoltado ou irado.

O primeiro comentário, merece-me o seguinte apontamento. Os ateus são pessoas estranhas. Porquê, porque dizem que não acreditam em Deus, que a Ciência é que é. Isto faz-me espécie porque os valores católicos deram origem aos direitos humanos que temos hoje, ao invés, os cientistas estão sempre numa fadiga para se contradizerem e deitarem teorias existentes por terra. Não é estranho acreditar numa coisa que está sempre a mudar de opinião? A minha opinião sobre o processo científico é simples: É útil e deve ser estimulada.
A pessoa vai mais longe insultando quatro quintos da população mundial (estou a inventar este rácio, onde quero chegar é que é uma grande maioria) que acredita em milagres e fenómenos inexplicáveis. Que um ateu reconheça a incapacidade da ciência, eu aceito como argumento, agora negar taxativamente que estes eventos alguma vez aconteceram é ser cabeça dura. Será possível que não tenha ouvido falar da quantidade de casos documentados de remissão expontânea de doenças crónicas e terminais? Especulando que o sentido do comentário depreciativo é de que efectivamente as coisas inexplicáveis terão, mais tarde ou mais cedo, resposta científica, remete-nos para uma crise conceptual. Senão vejamos:
Ateu, por definição, rejeita Deus. Deus é, por definição, um ser superior, transcendente e poderoso. De tal modo que só por intermédio da fé, é possível acreditar em Deus. Pois fé, é uma capacidade que nos permite acreditar naquilo que não vemos ou experenciamos pessoalmente. Se nos confinarmos à versão comum de fé, esta é exclusiva da religião. Em lato senso eu argumentaria que não, mas para o caso é pertinente focarmos nesta posição. Agora diz-me se fores capaz: o que é que leva uma pessoa a afirmar que mais tarde ou mais cedo, um suposto milagre terá explicação científica? Eu diria, a fé na ciência. E esta hein? Afinal parece mesmo que a Fé está geneticamente programada na humanidade. E quando há um zelo excessivo em negar Deus, esta encontra outra forma de se manifestar. Aliás, é a negação absoluta de Deus que eleva a ciência a um estado de superioridade, poder e, pasmem-se, transcendência (ou não será a trascendência a capacidade de superar os limites do conhecido, no normal?) E vou ainda mais longe, enquanto nós Católicos temos uma fé normalmente fraca, fruto do desconhecimento, os nossos amigos ateus têm uma fé cega e absoluta na ciência. Porquê cega? Podem mil e uma teorias vir destronar mil teorias que no limite, qual uma assímptota, tem que estar a ciência.

O segundo comentário é uma critica directa à Igreja Católica. Provavelmente por um agnóstico, mas não é de excluir uma seita ou um protestante. Eu quando quero ofender alguém também gosto de distorcer, exagerar e atirar-lhe à cara os erros que ele fez no passado (por acaso nem é bem verdade, mas acho que é assim que a maioria das pessoas funciona). É facto sabido que não sou historiador, mas tenho uma costela de cientista, e quando quero ser levado a sério tento não cometer imprecisões e quando estou a especular, advirto o meu interlocutor. Primeiro, é muito fácil dizer que a Inquisição matou milhões de pessoas (adjectiva-la de Santa foi um golpe de mestre). Só em Portugal e Espanha, onde esta foi bem activa, deve ter matado mais de um milhão. O problema é que pelas minhas estimativas, no século dezasseis e dezassete a população da peninsula ibérica não deveria ter mais que uma dúzia de milhões de pessoas. É portanto legítimo afirmar que a Inquisição matou 1 em cada 10 pessoas? Para isso todas as famílias tinham que ter entre 2 a 3 familiares na fogueira. Parece-me claramente descabido. Uma única pessoa que tivesse morrido pela Inquisição já era demais, mas não queiram atirar-me areia para os olhos; outra imprecisão e ainda não saímos da 1ª frase: as mortes não ocorreram em nome da Inquisição, mas por intermédio da Inquisição em nome de Deus. Outro erro crasso é atribuir as mortes do afã descobridor dos nossos amigos espanhóis à evangelização. É um facto que haveria um excesso de zelo, mas não foi concerteza por causa do evangelho, mais sim da prata e do ouro. A igreja teve culpas no cartório com certeza, mas dizer que o frades e os padres andaram de espada na mão é exagero desde as cruzadas. E segue-se "la pièce de résistance" deste comentário: "Acham que Deus permitiria isso?" Das duas uma, ou ela está a insinuar que nada daquilo que escreveu antes aconteceu porque Deus não permite estas coisas, ou temos aqui um caso grave de falta de vocabulário e de linguarudice e, obviamente, de completo desconhecimento de Deus. Pois se aconteceu é porque Deus permitiu. Até o nosso amigo ateu vê isso. Toda a gente sabe que Deus não se intromete nas nossas escolhas. Depois continua com uma teoria da conspiração que eu não compreendo, logo abstenho-me de comentar, e termina com duas farpas bem afiadas que como se sabe é o equivalente a uma discussão entre miúdos "tu cheiras mal". É um comentário sempre à mão. A questão da pedofilia na Igreja faz-me lembrar a questão da gripe A no ano passado. De um momento para o outro, começaram a morrer pessoas por causa da gripe A. Chegou a ponderar-se uma pandemia. De um momento para o outro, a gripe sazonal deixou de matar pessoas. Ainda estou para saber as estatisticas que digam que a gripe A é mais mortal comparativamente à gripe sazonal, e que o número de mortos entre a gripe sazonal e a gripe A foi muito superior relativamente aos anos anteriores. O problema é que todo os outros casos de pedofilia (com excepção dos famosos) não dão notícias tão boas. Quem é que quer saber se o Sr Joaquim no alentejo é pedófilo? E para terminar, quanto aos tempos anti-ciência faz-me crer que o comentarista ainda acredita no Pai Natal. É que se lhe for perguntado em que medida a Igreja impediu o avanço da ciência, vai sair-lhe na ponta da lingua: Galileu. Teria muito a dizer sobre este assunto, mas para já basta-me isto: o que me dirias se eu afirmasse o "a terra gira sobre si"! Dirias concerteza "é um facto comprovado". E se eu justificar essa afirmação com observação das marés? Dirias "és pateta, porque as marés formam-se porque a Lua anda à volta da terra". E eu concluo, qual é o mérito de afirmar verdade justificando erradamente, ou arranjando justificações exotéricas? Galileu não foi condenado por dizer que a terra gira à volta do sol (a bem da verdade a ideia não era nova) mas por querer arranjar justificações exotéricas para isso, ou pior, querer extrapolar conclusões exotéricas para a dourina da Igreja. A afirmação que a Igreja é ou foi anti-ciência é uma vil e falsa afirmação. Não vale esquecer-se que ciência é um conceito moderno. Aquilo que nós hoje chamamos História, Quimica, Fisica, Economia, etc.. sempre foi Filosofia, Astronomia e Alquimia e a Igreja sempre foi a favor do conhecimento e embora pudesse ter alguma desconfiança com a Alquimia nunca deixou de ter padres Filósofos, Astrónomos e Alquimicos. A única preocupação, desde Santo Agostinho, foi na demarcação de Fé e Ciência e de evitar extrapolações de um para o outro.

E o meu preferido por último. Então o Papa João Paulo II curou uma pessoa e não se curou a ele mesmo, que tinha exactamente a mesma doença? É claramente o meu preferido porque os próprios soldados que levaram, escarneceram e maltrataram Jesus desde que foi condenado à morte, disseram exactamente as mesmas palavras. E ou muito estou enganado ou o nosso amigo comentarista não conhece esta passagem biblica. "salvou os outros, salve-se a si mesmo!" E ao proferi-las, em vez de estar a atacar a pensamento católico como era seu objectivo com este comentário, está simplesmente a reforçá-lo pois não há católico que não conheça esta passagem. E ficamos os dois felizes!
Não é minha intenção justificar a decisão de Cristo de morrer na cruz e não ceder à tentação de se livrar de tudo aquilo, mas este caso é muito simples: a canonização ocorre quando é comprovado um milagre por intercessão do beato. Isto quer dizer que o papa já estava morto quando ocorreu este milagre. A única coisa que a Igreja tem de se certificar é a que beato ou santo o curado tinha pedido intercessão. E mais, um milagre não acontece por vontade do intercessor, mas pela fé do curado. Mesmo Cristo, no seu tempo, não curava quem queria, mas quem acreditava que Ele o podia curar. Hoje em dia, ocorre de igual maneira, nunca seria o Papa João Paulo a ter o poder de curar, mas somente a fé do doente.