terça-feira, 8 de dezembro de 2009

A morte de Deus

Considero-me uma pessoa mentalmente estável com um grau de perspicácia e inteligência razoáveis. Acredito em Deus. Serão coisas incompatíveis, a inteligência e a crença em Deus?
Estou convencido que sim olhando a comentários mordazes de mentes postulantes à do mui digno e respeitável José Saramago, entre outros.
Carl Marx foi um visionário, percebeu antes de muitos que a religião é apenas fruto da necessidade do homem obter respostas perante o desconhecido. O seu famoso "a religião é o ópio do povo" (perdoem-me se a memória me falha, mas acho que não estou enganado quanto ao autor desta célebre expressão) é espectacularmente retratante desta verdade. Perante a opressão, o povo tenta alienar-se do sofrimento através da religião.
Portanto, se a religião serve para me dar respostas face ao desconhecido e para acalentar a minha mente em contextos de dor, perante a cavalgada fulgurante da ciência moderna, Deus tornou-se obsoleto. As drogas livram-nos do sofrimento e as teorias e experimentações científicas respondem-nos ou responder-nos-ão a todas as dúvidas, mais tarde ou mais cedo.
Pior, olhando para a actualidade e para o passado, Deus foi e continua a ser o maior dos pretextos para as guerras e mortandades. Veja-se as cruzadas, a expansão Islâmica, a Inquisição e, mais recentemente, o terrorismo da Jihad Islâmica. Portanto, mesmo que Ele exista, é bom que desapareça de vez. A morte de Deus seria um fenómeno muito apreciado por muitos. A libertação final do misticismo. A consagração do iluminismo.

Quero com isto dizer duas coisas:
- O nosso cérebro tende a ser selectivo na análise da realidade quando estamos condicionados a uma resposta. Isto é, quando estamos concentrados a tentar provar uma ideia, é perfeitamente normal sermos falaciosos porque esquecemos ou ocultamos os factos que contestam a nossa teoria e exageramos os factos que a atestam;
- as pessoas que verdadeiramente acreditam nisto, acham que fazem parte de um mundo vasto, mas não passam simplesmente de uma excepção, uma minoria, se considerarmos a totalidade da população mundial. Esquecem-se frequentemente que as maiores mentes da humanidade de sempre e da actualidade foram e são crentes.

De facto, não são os ateus que me tiram o sono. Conheço algumas pessoas que são capaz de negar o que têm em frente dos olhos, se isso for contra a imagem que fazem da humanidade (exemplo: Olha a generosidade daquele fulano? Qual quê, está a ver é se arranja um tacho!). Levam-se com paciência.
Aqueles que me preocupam são os agnósticos, os católicos não praticantes e a proliferação de seitas religiosas. Para mim, esses têm efectivamente o poder de matar Deus.
Porquê?
Porque qualquer um dos grupos que referi, insere-se em pelo menos uma de duas normas:
- acreditam em Deus porque sim, sem terem pensado muito nisso, nem se incomodarem com tal ideia, não se sentem impelidos a nada;
- rejeitam a radicalidade religiosa, preferem o meio termo, o foie gras de cada confissão, e criam uma imagem de Deus à sua medida e/ou interesse.

Estes sim, são verdadeiramente uma maioria e insistem na incompreensão.
Não posso falar por outras religiões que não seja a Católica apostólica romana, mas penso que qualquer religião tem um credo acabado, completo. Isto é, não permite liberdade que leve à contradição, nem sonegação de regras por conveniência. É essa totalidade de regras e crenças que constituem a doutrina. E cada religião tem apenas uma, a qual, com séculos de história é, à partida, imutável.

5 versões distintas de Deus, por vezes tão díspares (budistas, cristãos, hindus, judeus e muçulmanos), são mais que suficientes para abarcar o génio humano. Milhentas versões de Deus, têm o condão de confundir até os mais piedosos e associadas às falhas e fraquezas dos homens que constituem a Igreja, colaborar para uma visão verdadeiramente distorcida de Deus. Isto sim, metaforicamente falando, é a morte de Deus.




P.S.: Não pretendo gastar muito latim a rebater os argumentos que usei no início deste post. Seria uma brincadeira de crianças. Pode ser que queiras fazê-lo por mim e ser útil a algum leitor. Se não, fica para a próxima.

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