sábado, 3 de outubro de 2009

O que é a inteligência?

Esta é uma questão que não estou habilitado a responder. Então porquê formulá-la? Porque acho uma questão de maior interesse, principalmente porque tenho algumas reservas que possa ser medida pelo QI - Quociente de Inteligência. E a passo a enunciar as minhas razões.

Parece-me estar a tomar uma atitude consensual se afirmar que uma pessoa que tem uma grande capacidade de raciocínio abstracto, de resolução de complexidades, de absorção de informação é uma pessoa inteligente. Por norma, uma pessoa inteligente consegue usar as suas armas neurológicas para encontrar as melhores soluções para os problemas. Mais uma vez, espero estar a ser consensual.

Onde estará então a minha dúvida? Oh, é muito simples. Uma pessoa que não consegue aproveitar o seu conhecimento e discernimento para ser feliz, será inteligente?
Cá para mim, uma pessoa de elevadíssimas capacidades, que apenas usa o intelecto para os seus próprios fins intelectuais, alheando-se dos prazeres da vida, não é inteligente, é estúpida, burra ou doente de uma doença intelectual (por exemplo os workaholics).
Por exemplo, sou muito inteligente, tenho um trabalho que põe à prova diariamente as minhas capacidades, ganho muito dinheiro por ser bom nesse trabalho, trabalho mais de 10 horas por dia 6 dias por semana. Dou o litro, até levo trabalho para casa, tenho muitas responsabilidade que exigem constantemente a minha atenção. Os meus sonhos são chegar a CEO e comprar uma ilha.
Será que esta pessoa é mesmo inteligente? A sua inteligência apenas lhe traz mais trabalho, mais preocupações e menos tempo para tudo o resto. Essa pessoa pode ser profissionalmente realizada mas será seguramente infeliz. O dinheiro compra conforto, não compra paz de espírito nem amizades, não enche o coração. Lamento, mas o meu veredicto é, essa pessoa não é inteligente.
Imagina a oração fúnebre que alguém faria a este indivíduo. Quem teria no seu funeral e o que diriam sobre si? Alguém a choraria de saudade? Valeria a pena ser essa pessoa só pelo dinheiro?

Se uma pessoa dotada de uma grande capacidade de raciocínio e de interpretação, por um lado, não consegue perceber que conforto e abundância de coisas não são felicidade e, por outro, não prevê que este conforto e abundância só lhe trarão mais preocupações, mais relações oportunistas e interesseiras e mais vazio interior e solidão afectiva não pode ser uma pessoa inteligente. Pior, se percebendo tudo isto, opta por esta via, é pior que burro, é um papagaio que repete o que dizem e não tem coragem de pensar por si próprio.
No fundo o que quero dizer é, se a inteligência não desabrochar em sabedoria, para mim, seguramente não é inteligência. É capacidade desperdiçada.

Concluindo, o que é afinal a inteligência? Não consigo dizer exactamente o que é a inteligência, mas acho que fui claro a explicar o que não é!

2 comentários:

  1. Olá Ricardo,
    Deixa-me dizer que estou a achar este blog espetacular! Dá que pensar, sem dúvida.
    Relativamente à inteligência e à felicidade é um tema que me interessa particularmente; mas acho que não têm necessariamente de ser considerados sinónimos.A inteligência pode ser definida como a capacidade mental de raciocinar, planear, resolver problemas, abstrair ideias, compreender ideias e linguagens e aprender; o estudo da inteligência geralmente entende que este conceito não compreende a criatividade, o carácter ou a sabedoria.
    Uma pessoa que utilize a sua inteligência para resolver um problemas matemático, para compreender uma tese, para utilizar um tipo de linguagem num determinado contexto, mesmo que esta pessoa não seja feliz, não se pode dizer que não seja inteligente; o certo é que está a aplicar uma capacidade que tem para resolver um problema específico - isto não deixa de ser inteligência.
    É claro que não deixa de ser uma pena que a pessoa inteligente não aplique essa capacidade para transformar a sua inteligência em sabedoria.
    A saber, sabedoria é: grande abundância de conhecimentos, erudição, saber, bom-senso, conhecimento rigoroso da verdade, ciência, razão, prudência, rectidão, etc.
    Parece-me que o conceito de sabedoria é mais abrangente do que a inteligência, a sabedoria já implica tomar as decisões certas com base em toda a verdade. Mas coloco sempre uma salvaguarda nas “decisões certas” aquilo que é certo para mim, pode parecer um disparate para outra pessoa; mas o que interessa é o que representa a minha decisão para mim, pois a outra pessoa não está ciente de "toda a verdade". Por exemplo, uma pessoa que se mate a trabalhar pode parecer-me tola, mas a forma como cada um é feliz, felizmente é diferente e se calhar a pessoa até se sente preenchida e realizada nesse trabalho que faz; eu que acredito em Deus até acho que a pessoa pode encontrar Deus nesse mesmo trabalho.
    Elsa

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  2. Obrigado Elsa!

    Se estas questões fossem assuntos encerrados, nem valia a pena estar a falar sobre eles. Ainda bem que há formas de pensar distintas, para podermos aprender todos uns com os outros.
    Agora, esmiuçando um pouco o que quis dizer no post.
    Mais do que a inteligência eu sei bem o que é a sabedoria. E talvez por isso, seja levado a conjecturar a inteligência numa aproximação à sabedoria.
    Mas aquilo que considero importante é: para que me serve a inteligência se o trabalho, mesmo sendo fonte de prazer, me absorve de tal modo que não me resta tempo para mais nada? Se ao analisar o meu passado e projectá-lo para o futuro apenas vejo o meu sucesso académico ou profissional? Se acredito em tudo o que passa na televisão, anúncios a venderem felicidade, reportagens e documentários altamente falaciosos?
    Consigo resolver puzzles intrincados e deslindar enigmas rapidamente, mas se não consigo dar a mão a uma pessoa que precisa, que adianta a inteligência?
    O Norte americanos gastaram milhões de dólares para inventar uma caneta que escrevesse no espaço. A quantidade de inteligência não terá sido necessária para o fazer? Só que os Russos utilizaram lápis. Quem foi afinal mais inteligente? Se uso a inteligência para complexificar processos em vez de os simplificar, estarei a ser inteligente?
    E assim por diante...

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