Vi hoje no facebook uma imagem com a seguinte frase: "What if I told you, you can believe in god without rejecting science and racional morality?"
Obviamente que tinha um rol incrível de comentários. Li meia dúzia e desisti. Logo nos primeiros comentários que vi, alguém ridicularizava quem tem fé e dizia ainda que fé é o oposto de ciência.
Talvez seja preconceito meu, mas penso que todo o tipo de intolerância denota algum grau de incapacidade racional. Pessoas inteligentes não são intolerantes, são simplesmente discordantes. Porque para mim, intolerância mexe com sentimentos e preconceitos e não com razões. Pela forma como mexe comigo, concluo que eu próprio sou intolerante à intolerância, principalmente a religiosa.
Aparentemente, se for a olhar para a quantidade de comentários a tudo quanto é notícia sobre o trinómio Igreja - Deus - Religião, o ateísmo intoleranto-militanto-discriminador tem muitíssimos adeptos. A propaganda é muito simples: a fé pede que acreditemos em coisas absurdas que contrariam a ciência, portanto, só os pré-históricos e os ignorantes é que ainda acreditam. É claro que qualquer católico minimamente educado na fé, sabe perfeitamente que é totalmente errado usar teorias científicas para suportar ou refutar qualquer conhecimento de fé, ou vice-versa, querer usar o sobrenatural para justificar a falta de conhecimento natural das coisas. A bíblia deve ser encarada como um livro que usa a relatividade para falar de coisas absolutas. Por seu lado, a ciência usa factos absolutos para falar de coisas relativas.
Quero dizer com isto que a bíblia usa de muitos estilos literários: poesia, relatos históricos, metáforas, parábolas e comparações (isto é, formas relativas e até mesmo confusas) para nos ensinar factos absolutos, como a natureza de Deus ou o papel do homem no mundo; por seu turno, a ciência usa os factos observáveis (absolutos no sentido em que determinadas condições produzem invariavelmente o mesmo resultado) para construir teorias. Ora, teoria é, por definição, algo que carece de comprovação. O evolucionismo e o big-bang, por mais consenso que reúnam, ainda não são factos, são teorias. Virá a altura em que novos factos, colocarão em causa ambas as teorias e as mesmas tenham de ser reinventadas ou completamente substituídas por outras. Isto não é fé, é um facto histórico. Fé seria acreditar em ambas as teorias como certas e definitivas. Muitas vezes penso que é preciso ter muito mais fé para negar Deus do que para acreditar. Porque o ser humano não suporta o vazio de absoluto, isto é, o vazio de certezas. Se tudo é relativo, então tudo é incerto. Logo, alguém que não acredita em Deus, tem de preencher essa necessidade de absoluto com outra coisa, normalmente é a ciência. E então colocam-na num estatuto que ela nunca quis ter. Peguemos num exemplo que dei: o evolucionismo. Há fortes evidências que suportam a teoria do evolucionismo, contudo, a mesma tem sofrido diversas alterações à medida que novos factos e descobertas põe em causa a formulação actual da mesma. De tal modo, que a teoria actual é muito diferente e mais complexa do que a formulada por Darwin. Mas, apesar de tudo, esta é a única teoria que permite ao ser humano, racionalmente poder retirar Deus da equação da origem da vida. O problema é que a teoria tem tantas lacunas (dificuldades em explicar alguns factos arqueológicos), que o tamanho e quantidade das teorias para explicar essas lacunas são bem maiores e menos lógicas. Mas, repito, como é a única que permite não acreditar em Deus de forma racionalmente honesta, há muita gente que coloca a sua certeza nessa teoria. Isto é, tem fé na teoria. O que é, por sua vez, grave, já que qualquer cientista honesto, sabe que todo o conhecimento científico é relativo e está sujeito a refutação, sob pena de dogmatizar o conhecimento, que é apanágio da religião.
Portanto, não é totalmente incompreensível que alguém defina fé como oposto a ciência. Mas a minha objecção mantém-se porque é o método que é oposto e não a sua natureza. E se isto não bastasse, também porque o seu argumento é muitíssimo incorrecto. O argumento é que a fé obriga a acreditar em coisas estapafúrdias, como por exemplo, que Deus criou o universo e a terra em 6 dias. Isto faz-me lembrar o caso do Galileu: o que é que adianta falar verdade se as conclusões que tiramos são ridículas? É claro que a fé não pede para acreditar nisso. A fé pede-nos para acreditar que foi Deus que criou o mundo, mas dá o lugar à ciência para nos tentar explicar, como é que Deus criou o mundo.
Na verdade, existe uma grande complementaridade entre ciência e fé. Precisamente porque nós não somos apenas matéria e processos químicos. Somos também emoções, leis, ética e comportamento. A ciência explica-nos a natureza e dá-nos ferramentas físicas, a fé ajuda-nos a viver em comunidade, ajuda-nos no campo do imaterial. É importante que a vida, que é do domínio do relativo, seja temperada com laivos de absoluto. Quanto mais caminharmos em direcção ao relativo, por conseguinte, rejeitando o absoluto, mais espaço ganha o subjectivo (o eu) e consequentemente se perde o nós.
No entanto, o motivo que me leva a escrever hoje é diferente.
Apesar desta longa dissertação, aquilo que eu queria dizer é que, embora o ateísmo pareça estar em alta, a verdade é que, olhando para os meus meninos do grupo de jovens, Cristo é incomparavelmente mais atraente. Não são poucas as pessoas que com certeza se sentem interrogadas com a nossa alegria e energia e sentem curiosidade em vir conhecer. Para os que me lêem, fica a dica: é pela fé em Cristo que somos contagiados com esta alegria! Não é por acreditarmos em Deus ou no sobrenatural, mas sim, especificamente em Cristo.