quinta-feira, 20 de maio de 2010

A relatividade das coisas

Já alguma vez paraste para pensar nalguma das teorias da relatividade do Einstein?
Eu já! E o mais engraçado é que para mim, a relatividade não é um teoria, mas sim um facto. A teoria está na forma como Einstein a pensou. Isto é: as teorias pretendem quantificar algo que para nós é, na sua maioria, visível a olho nu. Mas para essa quantificação ele teve que tomar como alicerces, hipóteses à data impossíveis de verificar, embora verosímeis, por exemplo, a supremacia da velocidade da luz no vácuo. Daí apenas ser uma teoria.
Então porque digo que a relatividade é um facto? Porque não estou a falar da teoria mas apenas do conceito. A relatividade é subjectiva e, acima disso, dialéctica. É tão verdadeira e real, tão entranhada no nosso espírito, que muitas vezes me esqueço dela, principalmente contando com quanto me poderia ser útil.

Estava no meu 7º ou 8º ano da escola quando descobri a relatividade. Pensava em voz alta com uns amigos: ''já viram como estes prédios são grandes? Ao pé deles somos, de facto, pequenos. Mas se virmos bem, deve ser exactamente o que uma formiga pensa de nós...''
Na altura senti um frémito de como quem descobriu algum coisa. Não é que me tenha servido de alguma coisa, mas fiquei contente por dar uso à razão. É engraçado raciocinar sobre um assunto que nunca pensámos e chegarmos a algumas conclusões que não conhecíamos.
Mas estou para aqui a divagar. Aquilo que me importa falar sobre a relatividade é como ela me pode tornar uma pessoa melhor.

Primeiro, alguns esclarecimentos.
A relatividade é subjectiva. Como depende da observação, ou em última instância, da imaginação, cada cenário é único para quem observa. Com os meus olhos, a minha educação e os meus preconceitos, relativizo (ou não, que ainda é pior) as coisas à minha maneira.
A relatividade é dialética. Só existe relatividade quando eu consigo discernir ou simplesmente divagar sobre o assunto. Ou seja, quando da observação resulta um conjunto de deduções ou induções para chegar a uma conclusão. Se da observação resulta uma conclusão, estamos na àrea do absolutismo, do preconceito.
Finalmente, tudo será relativo? Já tive algumas conversas de ocasião sobre este assunto. Há quem diga que sim, que nada há neste universo que não seja relativo, pois tudo pode ser relativizado à luz de algo.
Para mim este pensamento é estranho. pois se não existem valores ou ideiais absolutos, comparamos o quê com quê? Claro que na relativização temos que encontrar âncoras a partir das quais comparamos e relativizamos o que pretendemos (como nós os economistas gostamos de chamar et ceteris paribus - e tudo o resto constante). Mas se em momento algum existe um ponto de partida que seja imutável, como posso garantir que a âncora é válida. Aquela âncora já pode ser fruto de um preconceito tal, que nem sequer é aceite pacificamente como âncora por todos.
Enfim, quase tudo pode ser relativizado, mas sem a certeza de algo absoluto na minha vida, corro o risco de não saber para onde devo caminhar.

Referi atrás que acho que a relativização pode e deve servir para me tornar um pessoa melhor, mais conscienciosa do que me rodeia. Mas não basta relativizar, há que fazê-lo (perdoa-me mas tenho que usar dois palavrões) de forma holística e fazendo uso da hermenêutica diatópica. Traduzindo por míudos quer dizer, primeiro, que não devemos tirar conclusões somente com base numa acção, mas sim atender ao todo que conhecemos e ao que podemos desconhecer daquela pessoa; segundo, não olhar para aquela acção somente com os nossos olhos, mas fazer um esforço para conseguir ver com os olhos da pessoa que a realizou.
Por exemplo:
- Facto observado: A pessoa X a bater com um pau na pessoa Y.
Uma conclusão imediata após a observação, levar-me-ia a dizer que a pessoa X quer mal à pessoa Y. Mas se tiver o cuidado de relativizar a acção, surgem uma infinidade de conclusões possíveis:
- O Y é um bandido. O Y magoou o X e este está a defender-se;
- São grandes amigos. Não se trata de um pau, mas de uma brincadeira de carnaval;
- Acidente. O X não viu o Y e acertou-lhe sem querer.
Mas mesmo dentro da conclusão mais verosímil, que o X está a reagir a algo pelo que o Y é responsável, existem muitas possibilidades:
- O X está a reagir mas porque foi induzido em erro, o Y não fez nada;
- O Y portou-se mal e o X está a dar-lhe uma lição, não é um pau é uma régua de madeira...
- O X foi durante muito tempo manietado pelo Y e agora, finalmente, conseguiu libertar-se;
- O Y fez de facto uma maldade, mas foi sem querer, está arrependido e nem sequer se defende;
- ...
Acho que já percebeste onde quero chegar. No fundo estou apenas a apontar razões para evitar um grande flagelo da nossa sociedade: a crítica; o apontar o dedo, o preconceito.
Quem sou eu para criticar algo que desconheço?

Termino com um alerta. Estou convencido que a relatividade pura é um mal da nossa sociedade. Mas se for temperada com valores absolutos como o Bem, a Beleza, o Amor e a Paz, a partir dos quais relativizamos o resto, então é uma ferramenta fundamental para me tornar uma pessoa melhor.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Sobre o amor

Muito tenho falado aqui sobre o amor.
Talvez seja altura explicar o que ele é. Pelo menos para mim, e na forma como o tenho empregue neste blogue.

Amar é importar-me com alguém um pouco mais que me importo comigo.
É preocupar-me com a felicidade de alguém um pouco mais que me preocupo com a minha.
É desejar melhor para alguém que quero para mim.

Mas amar é, acima de tudo, agir, ser, fazer, conseguir que tudo isso aconteça, independentemente das consequências.

A Excepção

Não deves encarar a excepção que referi no último post, como uma excepção na total acepção do termo. Embora, na teoria divirja do "amar porque sim".
Estou a falar do namoro e, em sequência, do casamento.
A atitude deve ser a mesma que referi anteriormente, agir sem querer nada em troca, sem esperar retorno, desejar e fazer tudo para que a outra pessoa seja feliz.
Mas na teoria, não deves ter receio de esperar que o outro faça o mesmo. Pois se não o fizer, espero que a paixão não te turve os olhos durante demasiado tempo para saberes que te vais magoar. Por isso, o namoro serve para experimentar se um casal está em sintonia neste aspecto, se estão a caminhar lado a lado, ou se procuram ir de encontro um ao outro e vivem às turras, ou se divergem no caminho e se separam.
Mas esta excepção é mais que necessária: é fundamental. O que à primeira vista pode parecer uma falha na demagogia - só desejo que sejas feliz, desde que desejes o mesmo para mim - é na realidade o mais importante de uma relação e que é demasiadas vezes ignorada.
Senão vê por mim: eu espero sempre o melhor de mim e sou muito exigente nesta matéria do amor. Espero sempre de mim um amor incondicional. Espero que a minha coragem não falhe, que a minha humildade permaneça... Será racional não esperar o mesmo da outra parte de mim?
Se eu e o outro somos um, então temos que encarar a relação do mesmo modo. Devo desejar ser amado da mesma forma que eu amo: sem pensar em mim.
Passe o paradoxo!

sábado, 1 de maio de 2010

Amo porque sim - uma explicação

Quem é que normalmente utiliza a expressão "porque sim"?
As crianças, claro! Eu próprio a utilizei vezes sem conta na minha infância. Demonstra precisamente que nem todas as acções carecem de explicação.
É este o espírito que considero que deve comandar todos os gestos de amor. Não preciso de uma causa ou incentivo. Não preciso esperar nada em troca para amar alguém (salvo uma única excepção - vê o próximo post). Mas esta frase compreende mais que isto. Indo ao encontro do verdadeiro espírito de caridade, reflecte sobretudo o carácter imperativo do amor: tenho que amar. Porque tem de ser, mesmo que eu não queira, me apeteça ou custe. Ai de mim se não amar!

Se não preciso de um motivo ou momento, então, amo porque sim!