Foi mais ou menos isto:
"Vocês afirmam que Deus é todo poderoso? Então deveria ser capaz de criar uma pedra tão pesada que nem mesmo Ele pudesse levantar." E concluiu com um ar muito confiante: "Logo Deus não é todo poderoso, pois ou não a conseguiria criar ou não a conseguiria levantar"
Dizia-me esse rapaz que gostava de discutir questões profundas. Infelizmente já não me lembro o que lhe respondi, tenho apenas a ideia que desvalorizei a questão para não chamá-lo de estúpido.
Acho que pior do que construir-se um Deus à medida é querer-se impingir esse mesmo Deus. Repara, mesmo quem não acredita em Deus, tem uma ideia de quem Ele é para nós crentes. Mas se até nós cristãos temos muita dificuldade em conhecê-Lo, acabando por ter ideias disformes de um Deus único, que será dos outros?
Para mim este é que é um verdadeiro paradoxo que vale a pena ser discutido:
Imaginamos e acreditamos num Deus à nossa medida para mais facilmente respeitarmos o mandamento de nos tornarmos à medida Dele.
Vou dar-te um exemplo muito inocente. Quando alguém diz ou pensa "Deus castiga!" está inconscientemente a apoderar-se de Deus para as suas necessidades ou desejos (precisamente a ir contra o 2º mandamento). Neste caso concreto, acredita ou deseja que Deus intervenha sobre alguém castigando-a por algo que aquela pessoa considera injusto ou condenável. Provavelmente também porque de outro modo aquela acção nunca seria humanamente julgada.
Sinceramente, penso que nos dias que correm não é preciso andar 10 anos na catequese para rejeitar completamente este pensamento. A verdade é que Deus tão só não castiga, como muito provavelmente o perdoará, ou ainda mais provável, o que aos olhos daquela pessoa é uma acção condenável aos olhos de Deus ou de outras pessoas não passa de uma acção inocente.
Será assim tão difícil deixar de ver Deus como pronto socorro, poço de desejos ou moço de recados e passar a encará-lo como Ele é?